Revolta de Massas no Brasil
23 de junho de 2013
Nas últimas duas semanas, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de diversas cidades do Brasil em um levante como há muito não se via. Tudo começou com manifestações nas principais capitais do país organizadas contra o aumento das passagens de ônibus, destacando-se a atuação em São Paulo do Movimento Passe Livre (MPL). A brutalidade policial com que essas manifestações foram reprimidas – que incluiu tiros de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e até mesmo alguns casos de uso de munição letal – não gerou o resultado esperado e fez com que ainda mais pessoas fossem às ruas. Dessa forma, o que começou com protestos relativamente pequenos contra o aumento na tarifa de ônibus se transformou em uma rebelião de proporções nacionais, com milhões tomando as ruas.
23 de junho de 2013
Nas últimas duas semanas, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de diversas cidades do Brasil em um levante como há muito não se via. Tudo começou com manifestações nas principais capitais do país organizadas contra o aumento das passagens de ônibus, destacando-se a atuação em São Paulo do Movimento Passe Livre (MPL). A brutalidade policial com que essas manifestações foram reprimidas – que incluiu tiros de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e até mesmo alguns casos de uso de munição letal – não gerou o resultado esperado e fez com que ainda mais pessoas fossem às ruas. Dessa forma, o que começou com protestos relativamente pequenos contra o aumento na tarifa de ônibus se transformou em uma rebelião de proporções nacionais, com milhões tomando as ruas.
Um dos fatores responsáveis pelo crescimento do movimento é o aumento galopante do custo de vida provocado pelo retorno da inflação aos bolsos dos trabalhadores. E combinado a ele está toda a opressão e exploração que tem acompanhado a preparação para os grandes eventos esportivos que serão sediados no Brasil. Estes acarretaram muitas remoções de moradias populares nas cidades onde ocorrerão os jogos e a especulação imobiliária gerou um assombroso aumento dos preços dos alugueis e imóveis. No Rio de Janeiro, a resistência contra a remoção da “Aldeia Maracanã” se tornou um símbolo dessa situação, mas foi derrotada. E na esteira de toda a repressão às tentativas de resistência, vem a imposição da “Lei Geral da Copa”, que torna greves e manifestações ilegais durante a realização de tais eventos.
Os “megaeventos” também geraram gastos públicos
bilionários com estádios, enquanto as condições públicas de saúde e educação
acessíveis à população trabalhadora são muito distantes da imagem de “Brasil
Potência” apregoada pela propaganda oficial do governo brasileiro. Assim, a
luta contra o preço dos transportes foi apenas o estopim, que combinado à
indignação frente à violência policial, gerou a explosão de raiva popular que
presenciamos no momento.
O risco de transformação da revolta em despolitização nacional-pacifista
A popularização do movimento ficou
evidente quando, no último dia 17 de junho, uma marcha histórica levou cerca de
130 mil manifestantes às ruas do Rio de Janeiro. Nesse mesmo dia, milhares
ocuparam o teto do prédio do Congresso em Brasília, outros tantos marcharam em
direção ao estádio “Mineirão” em Belo Horizonte, e muitos mais lotaram mais uma
vez as avenidas e ruas de São Paulo. No Rio de Janeiro houve uma batalha contra
a PM, insuflada por todo o ódio acumulado após anos de repressão brutal, e que
fez parte do efetivo policial ter de recuar sob uma chuva de pedras e se
refugiar no prédio da Assembleia Legislativa, que por pouco não foi ocupado
pelo mar de gente que se colocou ao seu redor.
Diante desse vertiginoso crescimento,
houve mudanças importantes na dinâmica do movimento. As organizações e partidos
de esquerda, que deram um grande impulso ao movimento em seu início, quando a
questão das passagens de ônibus ainda era a pauta central, foram secundarizadas
pela entrada em cena de muitas massas que nunca haviam se posto em luta. Essa
massa de gente é largamente composta de setores com ideias vagas ou deformadas
de quem são os seus verdadeiros inimigos e de como combatê-los. As classes
dominantes, através de seus instrumentos midiáticos, policiais e
governamentais, resolveram adotar uma nova estratégia para conter e controlar a
explosão de ira.
Os grandes conglomerados brasileiros de
imprensa, que antes criminalizavam sem perdão todos os protestos, pedindo mais
policiais e mais repressão, mudaram nitidamente de tática após os atos
continuarem aumentando. Esses instrumentos burgueses passaram a tentar orientar
as manifestações para que elas adquirissem um tom absolutamente inócuo e
despolitizado, alterando drasticamente a forma como tratavam as notícias dos
protestos. Os oligopólios de notícias passaram a buscar sistematicamente
destruir o conteúdo originalmente progressivo das manifestações, e para isso
estabeleceram duas divisões fundamentais ao falar do assunto: a primeira, entre
o que chamam de uma “minoria de vândalos”, contraposta a uma maioria
“pacífica”; e a segunda, entre os partidos de esquerda, contrapostos ao “povo”.
A imprensa burguesa condena
repetidamente em seus telejornais os atos de radicalidade contra a polícia e os
prédios de governo, os bancos e etc., taxando-os de “vandalismo” e “baderna”.
Ao mesmo tempo, elogia sentimentos de amor ao Brasil, de “paz” e de harmonia
com a ordem, e coloca o questionamento da “corrupção” em abstrato e o uso da
bandeira brasileira como os maiores símbolos de tudo que vem ocorrendo. Assim,
desviam o foco da ira popular dos alvos iniciais (os empresários, os governos e
os símbolos físicos de seu poder) e tentam transformar os protestos num grande
misto de festa verde-amarela, pacifismo e despolitização.
Enquanto nós não reivindicamos ações
individuais de violência sem critério, consideramos absolutamente justos os
ataques direcionados contra alvos opressores, como sedes do poder de Estado e
também a polícia, especialmente quando partem de um movimento de massas amplo.
Esse tipo de ação, ao contrário do que retrata a mídia, contou com apoio de
grande parte dos manifestantes e, muitas vezes, era uma forma espontânea de
defesa contra os ataques brutais da repressão policial. Defendemos os
“vândalos” contra os verdadeiros assassinos – as forças de repressão do Estado.
A outra investida ideológica da
burguesia tem sido insuflar os sentimentos de “partidofobia”, um ódio
irracional a todo e qualquer tipo de partido político, que
procura principalmente igualar os partidos da classe trabalhadora com todo o
mal que existe na política institucional. Assim, já nas marchas do dia 17 de
junho, isso fez com que houvesse atos de hostilidade àqueles que carregavam
bandeiras vermelhas e começaram a surgir sentimentos tipicamente manipulados pela
direita, como “nossa bandeira é a bandeira do Brasil”.
Os governos também se reorientaram. Após
ficar claro que o movimento continuaria crescendo e as marchas se
multiplicando, os prefeitos de várias cidades anunciaram a revogação do aumento
da passagem. Às vésperas do segundo grande ato nacional, que ocorreu no dia 20
de junho, os governos do Rio de Janeiro e de São Paulo anunciaram quase que
simultaneamente que as tarifas retornariam ao preço anterior, mas a diferença
seria paga aos empresários com dinheiro público.
Em um misto de comemoração pela vitória
parcial, mas manutenção do sentimento de repúdio contra as variadas injustiças
sociais do nosso país, uma multidão ainda maior saiu às ruas. No Rio de Janeiro
estima-se que o número de pessoas nas ruas passou de um milhão. Porém, foi uma
marcha muito diferente das outras.
A revogação do aumento fez com que certo
vazio programático tomasse conta dos protestos. Os setores da esquerda
organizada tinham clareza de que a luta deveria continuar até que o aumento
fosse revogado de forma que as empresas não recebessem um centavo de verba
pública. Mas as organizações da juventude e da classe trabalhadora se tornaram
rapidamente minoritárias nas ruas.
Dessa forma, ao invés de uma ampliação
da pautas para combater o aumento dos custos de vida e atacar os lucros da
burguesia, o que se viu foi que, cada vez mais cooptados pelo discurso
veiculado pela mídia, milhares trajavam roupas brancas em prol da “não
violência”, além de carregarem a bandeira brasileira e entoarem o hino
nacional. A mídia havia conseguido em grande medida impor às manifestações um
tom ideológico de caráter nacional-pacifista e antipartido, sem demandas
progressivas claras, e com palavras de ordem vazias e abertas à manipulação por
setores da burguesia, como “abaixo a corrupção”.
Essas operações ideológicas não
significaram uma interrupção do uso das forças de repressão. Nos grandes
protestos do dia 20 de junho, o terror policial atingiu níveis extremos contra
toda e qualquer expressão de resistência. No Rio de Janeiro se repetiram
relatos de uso de munição letal, além da presença nas ruas de batalhões de
choque e dos odiosos “Caveirões” – os veículos blindados da polícia que atuam
no extermínio da juventude pobre e negra das favelas. Além disso, fica cada vez
mais notória a presença de agentes infiltrados que buscam desestabilizar os
protestos com atos de violência, tanto destinados a “justificar” a repressão
policial, quanto a atacar as organizações sindicais e partidárias,
expulsando-as das marchas.
Diante das mudanças, o que fazer?
A classe dominante atua em duas frentes.
Através dos governos e da imprensa ela busca influenciar as manifestações para
que se tornem politicamente vazias e propícias a manipulação: buscam impedir
que surjam demandas ou lideranças proletárias, baseadas em uma pauta que ataque
os lucros dos patrões. Ao mesmo tempo, mantém intensa repressão policial contra
os setores radicalizados das massas que atacam alvos governamentais ou resistiam
à violência policial, e também infiltram agentes nas manifestações para atacar
diretamente os partidos de esquerda e os sindicatos.
A esquerda que participa das lutas dos
oprimidos e explorados não estava à altura de influenciar as enormes marchas e
isso ocorreu principalmente pelo caráter extremamente heterogêneo e múltiplo
que elas assumiram ao crescer. O sentimento antipartido que tomou conta de
muitos que estão saindo às ruas parte da desilusão com os partidos da ordem e
da burguesia, mas está se voltando contra os “partidos em geral”, inclusive
aqueles que sempre estiveram presentes nas lutas populares e operárias. Esse
sentimento foi claramente instrumentalizado pela burguesia e pela mídia
corporativa para atacar as organizações do proletariado e cooptar os protestos.
Essas novas tendências que surgem
precisam de uma firme resposta da classe trabalhadora e de suas organizações. O
conteúdo atual das manifestações tem sido largamente influenciado por
sentimentos que podem fazer retroceder a luta. Está em aberto o rumo que tomará
esse movimento. Exatamente por isso, é necessário reorientar a insatisfação
popular com um programa aberta e claramente proletário e, portanto,
antiburguês. Só existe uma alternativa para que essa enorme força social que foi
liberada nas ruas não seja dirigida pela burguesia: que a classe trabalhadora
entre em cena enquanto uma força política organizada.
Isso se faz colocando os sindicatos em
peso nas ruas, garantindo a todo custo o direito de expressão das organizações
e partidos da classe trabalhadora, onde quer que estejam, e realizando ações
exemplares como greves e piquetes com programas classistas. Dessa forma o
proletariado se mostrará enquanto uma alternativa à massa confusa, entre a qual
muitos são trabalhadores precários e de categorias sem sindicatos.
Um “Dia Nacional de Luta” já vem sendo
articulado por algumas entidades sindicais, como a CSP-Conlutas, para o próximo
dia 27 de junho. Mas essa iniciativa deve ser urgentemente expandida para o
máximo número possível de sindicatos e não se limitar a apenas um dia de
paralisações, mas se estender enquanto durarem os protestos.
A melhor forma de organizar a inserção
em peso do proletariado nas manifestações e de derrotar os rumos que a
burguesia tenta estabelecer é através da realização de assembléias em cada
empresa e fábrica, bem como nas escolas e universidades onde os alunos se
solidarizem com a luta dos trabalhadores, para discutirem pautas locais e
gerais. Desde cada local de trabalho, estudo e também de moradia
(principalmente nas periferias e favelas) devem ser eleitos delegados com
mandatos revogáveis, que propiciem uma unificação através de assembleias
regionais e nacionais. Erguendo-se enquanto força organizada, a classe
trabalhadora seria capaz de direcionar a revolta de todos os explorados e
oprimidos contra a classe dominante e realizar uma profunda transformação
social.
O maior obstáculo para isso são os
burocratas que estão à frente dos sindicatos, que os mantém fortemente
adormecidos diante de uma gigantesca manifestação popular. Prova clara disso é
que poucos sindicatos tem estado presentes com colunas próprias nos protestos.
O engessamento dessas entidades, após anos sob o controle de direções que se
limitam a lutas corporativas e econômicas, tem feito com que até o momento a
classe trabalhadora (enquanto força organizada) esteja à margem de tudo que vem
acontecendo.
É por esse motivo que se faz
extremamente atual a luta pela formação de um partido revolucionário de
trabalhadores. Uma organização desse tipo lutaria por um programa socialista e
proletário nos sindicatos e nas ruas, buscaria influenciar a classe
trabalhadora para que esta liderasse as classes médias e dirigisse toda a
revolta popular contra seus verdadeiros inimigos: os patrões e os governos.
Ao mesmo tempo em que lutasse por
reformas que interessam ao proletariado, um partido revolucionário apontaria a
necessidade de um governo direto de trabalhadores, sobre as ruínas do atual
Estado, para garantir os interesses centrais dos explorados e oprimidos. Isso é
exatamente o que a burocracia sindical impede que aconteça, seja por conta de
seus setores que possuem rabo preso (financeira e/ou ideologicamente) com os
patrões e o Estado, seja por conta daqueles que se pautam um programa oportunista,
que é socialista nas palavras e reformista na prática.
Ataques ao movimento dos trabalhadores:
uma questão de vida ou morte
Na última marcha unificada (20 de
junho), no Rio de Janeiro, em São Paulo e em algumas outras cidades, a esquerda
formou um “bloco vermelho” para evitar as hostilidades presenciadas nos atos
anteriores, e garantir que pudesse erguer claramente suas bandeiras e entoar
suas palavras de ordem. Compuseram esse bloco os partidos e grupos da classe
trabalhadora, militantes de federações sindicais, entidades estudantis e também
membros do MST, num esforço de garantir seu direito democrático de expressão
política.
No protesto do Rio de Janeiro, bandos
bem organizados, armados com paus, pedras e bombas caseiras, atacaram o “bloco
vermelho”. O mesmo se repetiu em São Paulo e em algumas outras capitais. Desde
o início, esse bloco reacionário tinha a intenção de atacar fisicamente a
esquerda e os sindicatos. Eles parecem ser um misto de agentes policiais
infiltrados, fascistas, lumpens e criminosos pagos para se juntarem à turba
provocadora. Em São Paulo já foi comprovada a presença de ao menos dois grupos
de skinheads fascistas e o uso de armas típicas da polícia, como spray de
pimenta e bombas de efeito moral.
O objetivo desses bandos é claramente
pautado pelos interesses mais reacionários, destila ódio contra o proletariado
e suas organizações de classe – os partidos e sindicatos. No protesto, eles
buscaram forçar os partidos e sindicatos a baixarem suas bandeiras vermelhas,
perseguiram militantes com símbolos revolucionários ou mesmo vestidos em roupas
vermelhas e cantaram slogans de ódio como forma de agredir o proletariado e
suas organizações e incitar as massas contra eles.
Não se deve confundir o sentimento
antipartido das massas, que é fruto de uma identificação ingênua de todo e
qualquer tipo de partido com a corrupção burguesa e as injustiças sociais, com
este bando de mercenários e arruaceiros mantidos pela polícia e por grupos
fascistas. Eles buscam se aproveitar do baixo nível de consciência das
manifestações para confundi-las e lança-las contra o movimento proletário; não
são pessoas comuns, movidas por ignorância e que deveríamos disputar
politicamente, e sim um pequeno grupo de agentes preparados para o confronto a
qualquer custo. Existe uma diferença entre a falta de consciência de classe
daqueles que vestem a bandeira verde e amarela, e a corja que vai às ruas com
bombas caseiras e barras de ferro para agredir o proletariado organizado.
Por isso mesmo, enquanto achamos que o
convencimento e o debate político se faz muito necessário para elevar o nível
político baixíssimo das massas, não achamos que seja possível nenhum tipo de
“diálogo” com esses bandos assassinos. Devemos responder na mesma altura!
Os partidos e organizações agredidos, os sindicatos, o movimento sem-terra,
etc. precisam se organizar em frente única para garantir sua autodefesa.
Nesse momento, não pode haver a menor concessão a expectativas
socialpacifistas: se não se preparar para se defender fisicamente contra esses
bandos violentos reacionários, os trabalhadores serão incapazes de se manter
nesse movimento, pois serão repetidamente vencidos pelas colunas da reação e a
burguesia poderá cada vez mais controlar o movimento e dirigi-lo para objetivos
inócuos ou mesmo reacionários. Infelizmente, foram poucos os grupos que até
agora falaram em autodefesa. Já nós, nos pautamos pela tradição combativa do
proletariado revolucionário e de seus líderes históricos, um dos quais afirmou
que:
“Para poder lutar, é preciso conservar e reforçar os instrumentos e meios de luta: as organizações, a imprensa, as reuniões, etc. O fascismo os ameaça, direta ou indiretamente. Ainda é muito fraco para lançar-se à luta direta pelo poder; mas é bastante forte para tentar abater as organizações operárias, pedaço a pedaço, para temperar seus grupos nesses ataques, para semear nas fileiras operárias o desalento e a falta de confiança em suas próprias forças. Mais que isso, o fascismo encontra auxiliares inconscientes em todos aqueles que dizem que a ‘luta física’ é inadmissível e sem esperanças, e que reclamam de Doumergue o desarmamento de seus guardas fascistas. Nada é tão perigoso para o proletariado, especialmente nas condições atuais, que o veneno açucarado das falsas esperanças. Nada aumenta tanto a insolência dos fascistas quanto o brando ‘pacifismo’ das organizações operárias. Nada destrói tanto a confiança das classes médias no proletariado quanto a passividade expectante, a ausência de vontade para a luta.”― Leon Trotsky. “Aonde vai a França?”, 1934.
Apesar da derrota humilhante sofrida
pela esquerda do Rio de Janeiro no dia 20 de junho, a turba de reacionários
estava em nítida minoria. Se houvesse um bloco classista bem organizado e sem
ilusões socialpacifistas, o resultado certamente teria sido outro. Se a única
resposta que dermos aos que querem nos agredir forem os cantos de “sem
violência”, o proletariado será facilmente esmagado. É uma questão de vida ou
morte – trata-se de nossas cabeças, de garantir nosso direito de ir às ruas,
que é nosso meio natural, com nossas bandeiras e símbolos de luta. Está
na ordem do dia formar a autodefesa da classe trabalhadora e de suas
organizações partidárias, sindicais e de todas as organizações de luta contra a
opressão! É necessário estabelecer destacamentos bem preparados que revidem com
todos os meios necessários a estes ataques reacionários!
A primeira tarefa do proletariado, para
que este possa ter qualquer perspectiva à frente, é garantir seu direito de
levantar suas bandeiras, de discutir sua política e de apresentar suas
organizações. As piores derrotas são aquelas sem luta. E foi praticamente isso
que se viu nesses ataques. Em determinado momento, os próprios partidos de
esquerda, numa vã esperança de acalmar seus inimigos, aceitaram baixar e
esconder suas bandeiras vermelhas. Ao menos no Rio de Janeiro, onde estivemos,
foi nesse momento que o bando reacionário se sentiu ainda mais confiante e
atacou com todas as forças o movimento dos trabalhadores. Vimos uma minoria
violenta bem preparada derrotando os trabalhadores e estudantes classistas em
número muito superior porque estes não se organizaram para se defender. Isso
não pode se repetir!
No Rio de Janeiro, o “bloco vermelho”
foi expulso do ato, sendo forçado a ir para frente da marcha e dispersar na
altura do prédio da Prefeitura, onde teve que se desfazer para fugir dos
ataques. Depois disso, quando o resto da marcha chegou à Prefeitura, entrou em
ação a PM, a Tropa de Choque e o BOPE – que reprimiram brutalmente os
manifestantes. Cenas horripilantes se seguiram, como o uso de munição letal,
chuva de bombas de gás, a invasão da emergência de um hospital onde havia
manifestantes feridos sendo socorridos e o cerceamento de dois prédios da UFRJ,
onde muitos haviam se refugiado. Prisões ocorreram aos montes e confrontos se
espalharam por toda a extensão do centro da cidade, com um enorme aparato
repressivo sendo posto em uso. A expulsão dos sindicatos e partidos de
trabalhadores da manifestação os privou por completo de qualquer influência nos
eventos que se seguiram e nos quais poderiam ter cumprido um papel importante
na resistência aos ataques policiais.
O rumo das atuais manifestações não está
decidido. Se a participação e liderança do movimento dos trabalhadores não
forem garantidas, não haverá nenhuma saída progressiva. O primeiro passo para
desfazer a confusão antipartidária das massas é derrotar o bando reacionário
que nos quer expulsar a força das manifestações. Acreditamos que também é
necessário que o movimento operário estabeleça demandas claras e busque
reorganizar suas forças em meio à massificação sem um conteúdo político claro
que tem tomado as ruas.
O ovo da serpente mostrou que está sendo
gestado. Ou ele é destruído, como heroicamente os trabalhadores brasileiros
fizeram em 1934 (ao desmantelarem um comício fascista da Ação Integralista
Brasileira, no que ficou conhecido como a “Revoada das Galinhas Verdes”) ou ele
irá chocar. Apenas uma determinação revolucionária orientando o proletariado
será capaz de arrastar as massas confusas e as classes médias para longe de
ideologias reacionárias.
Por um programa proletário
revolucionário!
Houve uma mudança na composição e nível
de esclarecimento político com relação a protestos anteriores e as
manifestações de massa que seguem acontecendo diariamente pelo Brasil não
podem, nesse momento, ser definidas nem como intrinsecamente progressivas nem
como intrinsecamente reacionárias. Seu caráter definitivo ainda não foi
definido e, portanto, deve ser disputado. Para isso, devemos evitar dois tipos
de atitudes.
Uma delas é adotar uma postura passiva
de apoiar acriticamente manifestações extremamente heterogêneas e sem conteúdo
político claro, onde se misturam elementos de variados interesses de classe e
políticos. Outra é simplesmente descartar tais protestos como “ações fascistas
de massa”. Os grupos fascistas ou de extrema-direita não tem força para tanto,
muito pelo contrário: são menores que a própria esquerda. Eles estão avançando
por sua organização superior, pelo apoio que tem recebido de agentes
infiltrados da polícia e, principalmente, pela passividade do proletariado.
Eles não possuem influencia significativa nesse momento. Tentam se apoiar nos
sentimentos de repulsa das massas aos partidos políticos em geral, mas nenhum
grande partido de direita ou fascista está nesse momento liderando
as massas. Ambas as atitudes, a de matiz “otimista” e a de matiz “pessimista”,
relegam os revolucionários à passividade. Nenhuma delas é capaz de oferecer um
guia de ação claro para intervir no processo sem cair em um
oportunismo completo produzido por tais fatalismos.
As táticas para levar a classe
trabalhadora organizada à posição de vanguarda da revolta de massas devem
combinar uma intervenção nas manifestações em que ela esteja preparada para
lutar pela consciência do restante da população (erguendo suas bandeiras e
palavras de ordem) e uma reorganização dos seus próprios fóruns e formas de
luta tradicionais, como os piquetes e as greves.
É preciso mais do que nunca um programa
revolucionário coerente para orientar os trabalhadores. Esse programa deve
claramente delimitar os proletários de todas as forças burguesas, combatendo
politicamente tanto o governo do PT com os empresários, quanto a oposição de
direita – ambos responsáveis diretos pela repressão policial assassina que
temos testemunhado. Tendo em vista que o aumento do custo de vida é um dos
grandes fatores que tem mobilizado as massas, esse programa proletário
independente deve se pautar pelas demandas de reajuste automático dos
salários de acordo com o aumento do custo de vida; redução da jornada de
trabalho (sem redução de salários) para combater o desemprego; e efetivação dos
trabalhadores terceirizados em igualdade de condições!
Quanto à questão dos transportes públicos,
onde apenas uma vitória parcial foi alcançada através da revogação dos
aumentos, devemos defender a estatização dos transportes, sem indenização
para os patrões, a gratuidade das passagens e o controle dos trabalhadores
sobre as empresas! Apenas essa expropriação com passagem gratuita
poderá garantir que nem mais um centavo de dinheiro dos impostos arrancados dos
trabalhadores seja transferido para as mãos da máfia dos transportes.
Já a demanda de “tarifa zero” subsidiada
pelos impostos, defendida por muitos grupos (inclusive pelo Movimento Passe
Livre de São Paulo) é uma forma de manter a propriedade privada das empresas de
transportes e de transferir dinheiro público para os grandes empresários. Por
isso não reivindicamos essa demanda, e sim que as empresas sejam expropriadas
das mãos da burguesia.
Também devemos lutar pela liberdade
imediata de todos os presos nas manifestações e pela queda de todos os
processos! Essa campanha deve vir acompanhada de demandas pela destruição
da polícia racista e assassina que persegue os trabalhadores das favelas e
periferias e que tem perseguido sem limites a população nos últimos
dias. Para levantar com coerência essas demandas, devemos também pautar a expulsão
dos policiais do movimento sindical – policiais não são trabalhadores, e sim
braços armados do governo e dos patrões!
Essas demandas apontam necessidades básicas essenciais (apenas algumas das tantas de que carece o proletariado brasileiro) e que o governo burguês do PT, e a burguesia em geral, não aceitarão. As demandas que apresentamos devem ser defendidas não no contexto de reformar o governo, ou apenas cobrar para que ele invista mais em setores sociais, mas com a perspectiva de um governo direto de trabalhadores, baseado nas organizações de luta do proletariado, forjado através de uma revolução que derrube o governo dos capitalistas e seus lacaios.
Essas demandas apontam necessidades básicas essenciais (apenas algumas das tantas de que carece o proletariado brasileiro) e que o governo burguês do PT, e a burguesia em geral, não aceitarão. As demandas que apresentamos devem ser defendidas não no contexto de reformar o governo, ou apenas cobrar para que ele invista mais em setores sociais, mas com a perspectiva de um governo direto de trabalhadores, baseado nas organizações de luta do proletariado, forjado através de uma revolução que derrube o governo dos capitalistas e seus lacaios.
Essa perspectiva é dificultada pelas
muitas traições dos dirigentes petistas e seus aliados, além das demais
organizações da esquerda oportunista que não combatem consistentemente ou
capitulam aos governos capitalistas. Tais oportunismos desmoralizaram o
proletariado e deixaram-no sem confiança em suas forças e sem consciência dos
seus interesses de classe. Exatamente por isso, nós do Reagrupamento Revolucionário
nos colocamos na luta pela construção de um partido revolucionário de
trabalhadores capaz de defender uma orientação correta. Essa é a única garantia
de que no momento propício, o proletariado esteja imediatamente à frente de uma
revolta popular, e possa canalizar a raiva contra os verdadeiros inimigos da
população trabalhadora.
Que o proletariado, com suas bandeiras
vermelhas, tome as ruas e delas expulse os bandos reacionários! Forjar um
partido revolucionário dos trabalhadores para liderar essa e as próximas lutas!