Dia
Internacional da Mulher Trabalhadora
Originalmente publicado na edição de
número 14 do jornal Hora de Lutar (março de 2010) pelo então
revolucionário Coletivo Lenin.
Ascenso operário, greves e revolução
Foi num momento de grandes conquistas e
ascenso de lutas da classe operária, o começo do século XX, que se ouviu falar
pela primeira vez de um dia internacional da mulher trabalhadora. Desde a
metade do século XIX, a entrada em massa de mulheres na indústria (sempre muito
mais exploradas que os homens, com menores salários, etc.) criou a consciência,
entre os comunistas, de que a luta por melhores condições de trabalho para a
mulher deveria ter um papel de destaque. Em fevereiro de 1909, as operárias das
indústrias têxteis de Nova Iorque fizeram um chamado às mulheres de todo o
mundo a se rebelarem contra a exploração capitalista, realizando uma greve no
setor. Frequentemente este é reconhecido como o primeiro dia internacional da
mulher, embora não houvesse uma data definida.
Em 1910, a revolucionária alemã Clara Zetkin propôs
haver um dia para lutar e protestar pela questão específica (e central) das
mulheres trabalhadoras. Isso ocorreu no Fórum de Copenhagen da Internacional
Socialista, organização herdeira do marxismo até capitular ao apoio à Primeira
Guerra mundial. Apesar de aprovada a proposta, nenhuma data foi definida. Mesmo
assim, no ano seguinte, milhões de trabalhadores foram às ruas pela questão da
mulher, no dia 19 de março. Poucos dias depois, um incêndio numa
indústria em Nova Iorque matou 146 trabalhadoras (em sua maioria costureiras).
Para muitas fontes do imaginário coletivo, foi este o evento que levou ao
estabelecimento de um dia internacional da mulher.
Na verdade, não havia um dia definido até 1917. A
primeira vez que o dia 8 de março surge na história é com as tecelãs da cidade
russa de Petrogrado, que entraram em greve para lutar contra o czarismo, três
anos de guerra mundial e escassez geral de suprimentos. Essa greve acabou dando
início a um movimento de massas que culminou com a revolução russa de
“fevereiro” (23 de fevereiro no antigo calendário juliano russo e 8 de março no
calendário gregoriano ocidental). Trotsky certa vez escreveu: “Em 23 de
fevereiro estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, as operárias
têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para
solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas.
Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a
revolução”. Em 1920, o dia 8 de março se tornou o dia internacional da mulher
trabalhadora na URSS, em referência às tecelãs de Petrogrado. Apenas no final
do século XX, a ONU adotou também o dia 8, sob um aspecto de “celebração”.
O que dizia Clara Zetkin
A proposta de um dia internacional da mulher (mesmo
antes de o dia 8 de março ficar marcado na história pelas operárias russas)
jamais foi um dia para simplesmente comemorar. É um dia de luta coletiva de
todos os trabalhadores por um dos setores mais explorados da nossa classe.
Zetkin (amiga e colaboradora próxima de Rosa Luxemburgo) acreditava ser
impossível chegar ao socialismo sem organizar e mobilizar as trabalhadoras do
mundo. Isto está diretamente ligado ao papel que elas cumprem na produção
capitalista.
Além de serem superexploradas nas empresas, as
mulheres ainda estão presas ao trabalho doméstico, que não é remunerado no
capitalismo apesar de ser socialmente necessário. Essa é a principal base para
a dependência econômica que leva à reprodução do machismo. A maioria das
mulheres enfrenta uma dupla jornada de trabalho, dentro e fora do lar. Por
isso, a luta contra essas condições e a capacidade das mulheres trabalhadoras
deve ser entendida, antes de tudo, como um motor propulsor de grandes
transformações sociais, como a história já demonstrou diversas vezes.
A esquerda e a questão da mulher
Apesar disso, o modo como as organizações de
esquerda em geral tratam a questão da mulher é totalmente periférica. Dizer que
uma questão é específica não significa discutir o assunto em ocasiões específicas
(ou “dias de festa”, como tratam o 8 de março). Pelo contrário, significa
discutir e lutar contra a exploração da mulher com atenção particular em TODAS
as oportunidades e ocasiões. Significa não manter o assunto em fóruns fechados
específicos, mas incorporá-lo ao cotidiano das manifestações da classe
trabalhadora, discutindo a questão nas assembleias gerais.
Nós do Coletivo Lenin temos certeza de que
construir um mundo melhor é impossível sem abordar no dia-a-dia essa questão
fundamental que é a opressão e exploração das mulheres trabalhadoras. Por isso,
este é um dia para fazer algo mais além de homenageá-las. É um dia para estar
presente em todas as lutas defendendo as bandeiras contra aqueles que
reproduzem essa sociedade de exploração e opressão, um dia de dar um passo nas
lutas para criar um mundo socialista. E também, um dia para lembrar (seguindo o
exemplo de grandes revolucionários) de que essa é a nossa tarefa, não no dia 8
de março, mas em cada dia do ano.