A posição trotskista na Palestina
Contra a Corrente
O presente documento foi traduzido para o
português pelo Reagrupamento Revolucionário em 2012 a partir da versão
publicada em inglês na revista Fourth
International em maio de 1948, que está disponível em marxists.org/history/etol/newspape/fi/vol09/no03/kolhamaad.htm.
Editor de Fourth
International – O artigo a seguir foi originalmente publicado
como editorial do Kol Ham’amad (Voz da Classe), órgão em língua hebraica da
Liga Comunista Revolucionária da Palestina, seção da Quarta Internacional. Ele
expõe o caráter reacionário do plano de partilha da ONU, que sufoca a maré
crescente de luta de classes na Palestina, confunde as linhas de classe e cria
uma atmosfera de “unidade nacional” antagônica em ambas as comunidades
nacionais na Palestina.
Como nós podemos ler no editorial, o stalinista Partido Comunista da Palestina não escapou da histeria nacionalista nos dois campos, e rachou em dois partidos nacionais. Apenas os trotskistas palestinos mantiveram a posição socialista ao chamarem os trabalhadores árabes e judeus a romperem com os inimigos de classe nas suas colunas e conduzirem a sua luta independente contra o imperialismo. Apesar da alta maré de chauvinismo que acompanha o novo Estado “hebreu” estabelecido pelas armas da Haganah de um lado, e a invasão do exército de “Liberação” árabe do outro, somente o programa proletário internacionalista levantado pelos trotskistas pode prover os meios de resolver o problema da Palestina.
Como nós podemos ler no editorial, o stalinista Partido Comunista da Palestina não escapou da histeria nacionalista nos dois campos, e rachou em dois partidos nacionais. Apenas os trotskistas palestinos mantiveram a posição socialista ao chamarem os trabalhadores árabes e judeus a romperem com os inimigos de classe nas suas colunas e conduzirem a sua luta independente contra o imperialismo. Apesar da alta maré de chauvinismo que acompanha o novo Estado “hebreu” estabelecido pelas armas da Haganah de um lado, e a invasão do exército de “Liberação” árabe do outro, somente o programa proletário internacionalista levantado pelos trotskistas pode prover os meios de resolver o problema da Palestina.
***
Políticos e diplomatas ainda estão
tentando encontrar uma fórmula para a situação desastrosa na qual a Palestina
foi mergulhada pela decisão da ONU sobre a partilha. Será isso uma “violação da
paz internacional” ou nós estamos lidando meramente com “atos de hostilidade”?
Para nós não existe distinção. Nós estamos testemunhando diariamente a matança
ou mutilação de homens e mulheres, velhos e jovens, judeus ou árabes. Como
sempre, as massas trabalhadoras e pobres sofrem mais.
Não faz muito tempo os trabalhadores
árabes e judeus se uniam em greves contra o opressor estrangeiro. Essa luta
comum acabou. Hoje os trabalhadores estão sendo incitados a matar uns aos
outros. Os provocadores venceram.
“Os britânicos querem frustrar a
partilha pelos meios do terrorismo árabe”, falam os sionistas. Como se o ataque
conjunto não fosse o próprio instrumento pelo qual a partilha se faz realidade!
Foi fácil para os imperialistas prever isso e eles devem estar realmente
satisfeitos com o curso dos eventos.
QUE SAPO BEVIN-CHURCHILL VÃO TER QUE ENGOLIR?
A Grã-Bretanha foi uma perdedora na
última guerra mundial. Ela perdeu a maior parte dos seus espólios estrangeiros.
A sua indústria está ficando para trás. A reconstrução do seu aparato produtivo
requer dólares e mão-de-obra.
“Manter a ordem” na Palestina custa
para a Inglaterra mais de 35 milhões de libras esterlinas por ano, um montante
que excede o lucro que ela pode extrair deste país. A partilha vai libertá-la
das obrigações financeiras, permitir que ela empregue seus soldados no processo
produtivo enquanto a sua fonte de recursos vai permanecer intacta. Mas isso não
é tudo. Com a partilha, uma divisão é criada entre o trabalhador árabe e judeu.
O Estado sionista com as suas provocadoras linhas de demarcação vai trazer o
desabrochar de movimentos de vingança de ambos os lados, haverá luta por uma
“Palestina árabe” e por um Estado judeu nas fronteiras históricas de “Eretz Israel” (Terra de Israel). Como
um resultado da atmosfera chauvinista que foi criada, o mundo árabe no Oriente
Médio será contaminado e isso vai estrangular a luta anti-imperialista das massas,
enquanto os sionistas e feudalistas árabes vão disputar a preferência
imperialista.
O preço que a Grã-Bretanha tem que
pagar pelas vantagens ganhas com a partilha da Palestina é renunciar ao seu monopólio
de dominação sobre este país. Por outro lado, Wall Street deve vir à tona
cumprir com a sua parte no negócio sujo de salvaguardar as posições
imperialistas. Isto, é claro, suja a reputação “democrática” do país do dólar
enquanto ao mesmo tempo aumenta o prestígio da Grã-Bretanha. A partilha da
Palestina, portanto, é um compromisso entre os ladrões imperialistas que surge
de uma balança de poder modificada.
A FUNÇÃO DA ONU
Se os imperialistas anglo-americanos
tivessem forçado esta “solução” na Palestina eles próprios, o jogo sujo teria
ficado evidente em todo o Oriente árabe. Entretanto, eles se esquivaram – o
problema foi passado para a ONU. A função da ONU foi adocicar o gosto amargo e
repugnante da cozinha imperialista ao fantasia-la com tolices sobre, nas
palavras de Bevin [1], “a consciência sã de um mundo que passou na prova”. E os
diplomatas dos países menores dançaram no ritmo do dólar, reiterando “a opinião
pública mundial”. E o elenco peculiar desta performance teatral permite à
Grã-Bretanha flutuar como o Anjo da Guarda transbordando de simpatia dos dois
lados.
E a União Soviética? Por que a sua
representante não declarou que o jogo da ONU era a enganação que é?
Aparentemente a atual política estrangeira da URSS não está preocupada com a
luta das massas coloniais. E como a questão da Palestina é um assunto
secundário para os “Grandes”, os diplomatas soviéticos acharam bom se apegar ao
que disse Stálin sobre o fato de “a União Soviética estar pronta para ir de
encontro aos Estados Unidos e à Grã-Bretanha, apesar das diferenças econômicas
e sociais”.
Foi assim que a ONU “resolveu” o
problema palestino. No entanto, é o mesmo prato repugnante que está sendo
servido para Índia, Grécia e Indochina.
O QUE OS JUDEUS TEM A GANHAR COM A PARTILHA?
Os sionistas ficaram extasiados com um
sentimento de triunfo quando lhes ofereceram o osso do jantar da ONU. “Nosso
trabalho, nossa justa causa venceu... diante do fórum das nações”.
Os sionistas tem tido o hábito de
pedir “justiça” aos inimigos do povo judeu desde Herzl [2]: do Czar ao Kaiser
alemão, os imperialistas britânicos, Wall Street. Agora eles viram sua chance.
Wall Street está distribuindo empréstimos e “independência política”. É claro,
não de graça. O preço tem que ser pago em sangue.
O Estado judeu, este presente de
Truman e Bevin, dá à economia capitalista dos sionistas um fôlego extra. Esta economia descansa sobre
fundações muito inconsistentes. Os seus produtos não podem competir no mercado
mundial. A sua única esperança é o mercado interno no qual os produtos árabes
foram excluídos. Então o problema da imigração judia tornou-se um problema de
vida ou morte. O fluxo contínuo de imigrantes que chegariam com o que sobrou
dos seus pertences pode aumentar a circulação de mercadorias, permitindo aos
proprietários burgueses se desfazerem dos seus caros produtos manufaturados. A
imigração de massa também seria bastante útil como uma forma de forçar para
baixo os salários que “pesam tanto” na indústria judaica. Um Estado envolvido
invariavelmente em conflitos militares significaria encomendas para o “Exército
Hebreu”, uma fonte de “lucros hebreus” que jamais iriam cair. Um Estado
significaria milhares de leitos confortáveis para os veteranos funcionários
sionistas.
QUEM VAI PAGAR A CONTA?
Os trabalhadores e os pobres. Eles
terão que pagar o preço salgado que virá com a proibição dos produtos árabes.
Eles irão desabar sob o bolo de impostos sem fim, diretos e indiretos. Eles
terão que cobrir o déficit do Estado judeu. Eles estão vivendo ao relento, sem
ter nenhum teto sobre sua cabeça, enquanto as instituições tem “coisas mais
importantes” para se preocupar.
O trabalhador judeu foi separado do seu
camarada árabe e impedido de lutar uma luta de classe comum, e estará à mercê
dos seus inimigos de classe, o imperialismo e a burguesia sionista. Será fácil
instiga-lo contra o seu aliado proletário, o trabalhador árabe “que está
roubando os seus empregos e rebaixando o valor dos salários” (um método de
propaganda que não falhou no passado). Não foi em vão que Weitzmann [3] disse
que “o Estado judeu vai conter a influência comunista”. Como compensação, o
trabalhador judeu receberá o privilégio de ser sacrificado como herói no altar
de morte do Estado judeu.
E que promessas mantem o Estado judeu?
Ele realmente significa um passo à frente rumo à solução do problema judeu?
A partilha da Palestina não teve a
intenção de resolver a miséria dos judeus e nem provavelmente irá. Este Estado
anão que é pequeno demais para absorver as massas judias e não pode nem mesmo
resolver os problemas dos seus próprios cidadãos. O Estado hebreu só pode
conseguir infestar o Oriente árabe com antissemitismo e pode muito bem acabar
sendo – como Trotsky disse – uma armadilha sangrenta para centenas de milhares
de judeus.
A PARTILHA DA PALESTINA É LENHA NA FOGUEIRA DOS REACIONÁRIOS
ÁRABES
Os líderes da Liga Árabe reagiram à
decisão da partilha com discursos cheios de ameaças e entusiasmo. De fato, um
Estado sionista é para eles uma benção de Alá. Chamar o trabalhador e o fellah
(camponês) para a “guerra santa para salvar a Palestina” pretende sufocar os
seus lamentos por pão, terra e liberdade. É outro método honrado de desviar um
povo enraivecido a ir contra os judeus e o perigo comunista.
Na Palestina o poder feudal começou
tardiamente a perder espaço. Durante a guerra, a classe trabalhadora árabe
cresceu em números e em consciência política. Trabalhadores árabes e judeus se
colocaram contra o opressor estrangeiro, contra o qual eles entraram em greve
de forma unida. Uma poderosa central sindical de esquerda passou a existir; e a
“Associação Trabalhista dos Árabes da Palestina” estava a caminho de se
libertar da influência dos seguidores de Hussein. O assassinato de seu líder,
Sami Taha [4], cometido por mercenários do Alto Comitê Árabe não pôde impedir
esta transformação. Mas onde os seguidores de Hussein falharam, a decisão da
agência imperialista, a ONU, foi bem sucedida. A decisão sobre a partilha
sufocou a luta de classes dos trabalhadores palestinos. A previsão de estarem
nas mãos dos “conquistadores da terra e do trabalho” sionistas está causando
medo e ansiedade entre os trabalhadores e fellah árabes. Slogans de guerra
nacionalistas caem em um solo fértil. E os assassinos feudalistas veem a sua
chance. Assim a política da partilha permite aos feudalistas girar as rodas da
história para trás.
UM PRIMEIRO RESUMO
Os primeiros frutos da política da
partilha: judeus e árabes foram mergulhados num mar de entusiasmo chauvinista.
Triunfo de um lado, raiva e desespero do outro. Comunistas estão sendo
assassinados. Pogroms entre judeus estão sendo instigados. Olho por olho nos
assassinatos e na provocação. As “expedições” da Haganah [5] são óleo na
máquina de propaganda dos patriotas árabes na sua campanha para alistar as
massas para mais banho de sangue. O conflito militar e a desintegração em
pedaços do movimento dos trabalhadores são uma benção para os extremistas
chauvinistas em ambos os campos.
E QUANTO AOS “COMUNISTAS” JUDEUS?
A onda patriótica faz com que seja desconfortável
ficar em cima do muro. Os partidos “socialistas” sionistas logo “corrigiram”
suas frases anti-imperialistas e sua teimosa “resistência” contra “cortar o
país em pedaços” e deram lugar ao um pleno e entusiasmado apoio à política
imperialista da partilha. Isto foi uma questão trivial, uma questão de
meramente mudar as táticas sionistas.
No entanto, podia-se esperar do
stalinista Partido Comunista da Palestina tomar uma posição diferente. Eles não
alertaram repetidamente contra os resultados fatais que viriam junto com o
estabelecimento de um Estado judeu? “A partilha necessariamente é desastrosa
para ambos judeus e árabes... a partilha é um esquema imperialista com a
intenção de dar ao domínio britânico mais um sopro de vida” (testemunho dado
pelo PCP diante da comissão de inquérito anglo-americana em 25 de março de
1946). O secretário do partido lealmente se manteve nessa atitude até meados de
julho de 1947, quando ele disse diante da comissão da ONU: “Nós recusamos o
esquema da partilha e ponto final, uma vez que este esquema vai contra os
interesses dos dois povos”. Entretanto, depois que este esquema foi ampliado
com o apoio dos representantes soviéticos, Kol Ha’Am (o órgão central
stalinista) apressadamente declarou que “a democracia e a justiça ganharam o
dia (!)”. E do dia para a noite surgiu um partido recém-batizado: o nome de
Partido Comunista da Palestina foi mudado para Partido Comunista de Eretz
Israel (Partido Comunista da Terra Hebraica). Assim, mesmo o menor vestígio de
contato com a população árabe foi rompido. O vão que ainda os separava do
sionismo foi finalmente ultrapassado. Ao invés de ser a vanguarda da luta
anti-imperialista das massas de árabes e judeus, o Partido Comunista da
Palestina se tornou o seguidor “comunista” dos sionistas “de esquerda”.
Precisamente em uma hora em que o sionismo mostra a todos a sua face
contrarrevolucionária, o seu servilismo aberto ao imperialismo, então o próprio
Partido Comunista leva ao ridículo toda a sua exposição anterior das fraudes
imperialista e sionista.
POR QUE ELES FORAM À BANCARROTA?
Falta à política do Partido Comunista
Palestino uma linha contínua. A política do PCP reflete ambas as pressões que
derivam da luta de classes dos trabalhadores judeus e as necessidades da
política externa soviética. As necessidades da guerra de classes, entretanto,
exigem uma consistente política internacional, a negação do sionismo, da sua
discriminação entre árabes e judeus. Porém, o PCP tem a necessidade de ajustar
a linha do partido às manobras diplomáticas da URSS em seus chamados por uma
política “mais flexível”, à qual falta qualquer firmeza. Como resultado, nós
encontramos claras hesitações e um ziguezague, que atrelaram o PCP ao carro
sionista. São a quinta roda!
E OS “COMUNISTAS” ÁRABES?
Os stalinistas árabes, a “Liga pela
Liberação Nacional”, não se portou melhor que os seus camaradas judeus. Eles
ficaram numa tremenda dificuldade ao ter que justificar o apoio russo ao Estado
judeu. Não podiam esperar que os trabalhadores árabes aceitassem esta linha.
Nem mesmo à força. Eles sabiam o que a mediação da diplomacia soviética
significava: quebrar a unidade dos trabalhadores palestinos e um ataque
traiçoeiro. Depois da declaração de Zarapkin [6] a favor da partilha, os
membros da Liga pela Liberação Nacional se encontraram cercados de desprezo e
de hostilidade.
A política da União Soviética destruiu
a autoridade da Liga entre os trabalhadores árabes. Assim ela abriu a porta
para a campanha reacionária, chauvinista contra o “perigo vermelho”.
Atualmente, a Liga pela Liberação Nacional se posiciona pela paz e está ocupada
expondo o papel provocativo desempenhado pelo governo britânico. Mas desde que
ela chamava por “unidade nacional” (com os feudalistas seguidores de Hussein,
os instigadores da guerra nos anos anteriores), a sua atitude é incapaz de convencer.
Mas a Liga pela Liberação Nacional conseguiu convencer os trabalhadores árabes
de uma coisa: que a força motora por trás da sua política não é o interesse do
proletariado palestino, mas aquele do Kremlin.
UMA GUERRA DEFENSIVA?
Os dois campos hoje mobilizam as massas
sob a máscara da “autodefesa”. “Nós fomos atacados, deixem que nos defendamos!”
dizem os sionistas. “Deixem que nos livremos do perigo de uma conquista dos
judeus!” declara o Alto Comitê Árabe. Onde está a verdade?
A guerra é a continuação da política
por outros meios. A guerra liderada pelos feudalistas árabes não é nada além da
continuação da sua guerra reacionária contra o trabalhador e camponês que estão
lutando para acabar com a opressão e a exploração. Para os mestres feudalistas,
a “Salvação da Palestina” significa salvaguardar os seus domínios à custa do fellahin (campesinato), mantendo o seu
poder autocrático em uma cidade ou país, esmagando as organizações do
proletariado e a solidariedade internacional de classe.
A guerra travada pelos sionistas é a
continuação da sua política expansionista baseada na discriminação entre dois
povos: eles defendem kibbush avoda (expulsar os
trabalhadores árabes), kibbush adama (expulsar o camponês
árabe), boicotar os produtos árabes, “Poder Judeu”. O conflito militar é um
resultado direto das ações dos conquistadores sionistas.
Nesta guerra nenhum dos lados se
aproxima de um caráter progressivo. A guerra não libera as forças produtivas e
nem se livra de obstáculos políticos ou econômicos no caminho para o
desenvolvimento das duas nações. Justamente o oposto. Ela leva ao
obscurecimento do antagonismo de classe e abre o portão para excessos
nacionalistas. Ela enfraquece o proletariado e reforça o imperialismo em ambos os
campos.
O QUE FAZER?
Cada lado é “anti-imperialista” até a
medula, ocupado em deter os reacionários... do lado oposto. E o imperialismo
sempre é visto... ajudando o outro lado. Mas este tipo de exposição é querosene
para a fogueira imperialista. A política de bajulação do imperialismo se baseia
em agentes a agências dentro dos dois campos. Portanto, nós dizemos ao povo
palestino em resposta aos propagandistas patrióticos: Façam desta guerra entre judeus e
árabes, que serve aos interesses do imperialismo, uma guerra comum de ambas as
nações contra o imperialismo!
Esta é a única solução para garantir
uma verdadeira paz. Este deve ser o nosso objetivo, que deve ser alcançado sem
concessões ao clima de chauvinismo que prevalece atualmente entre as massas.
Como isto pode ser alcançado?
“O inimigo principal está em casa” –
isto era o que Karl Liebknecht tinha a dizer aos trabalhadores quando os
imperialistas e também os socialdemocratas os incitavam a matar os seus irmãos
trabalhadores nos outros países. É nesse espírito que nós dizemos aos
trabalhadores judeus e árabes: o inimigo principal está no seu próprio campo!
- Trabalhadores judeus: livrem-se dos provocadores sionistas que dizem a vocês para se sacrificarem no altar do Estado!
- Trabalhadores e camponeses árabes: livrem-se dos provocadores chauvinistas que estão lançando vocês num mar de sangue para o próprio bem-estar e enriquecimento deles.
- Trabalhadores dos dois povos: unam-se numa frente comum contra o imperialismo e os seus agentes!
O problema que preocupa a todos nestes
dias é o da segurança. Os trabalhadores judeus perguntam: “Como proteger nossas
vidas? Nós não devemos apoiar a Haganah?” E os trabalhadores árabes e fellahin perguntam: “Nós não devemos nos
juntar à Najada, Futuwa [7] para nos defendermos contra os ataques dos
sionistas?”.
Uma distinção deve ser feita entre os
lados político e prático desta questão. Nós não podemos impedir mobilizações e,
portanto, não dizemos aos trabalhadores para se recusarem a mobilizar-se. Mas é
nosso dever denunciar o caráter reacionário das organizações chauvinistas,
mesmo no seu próprio lar. O único caminho para a paz entre os dois
povos deste país está em virar as armas contra os instigadores de assassinatos
em ambos os lados.
Ao invés de um discurso abstrato
“anti-imperialista” dos social-patriotas que encobrem o seu servilismo ao
imperialismo, nós estamos mostrando uma forma prática de lutar contra o
opressor estrangeiro: desmascarar os agentes locais, minar a sua influência; de
forma que o trabalhador árabe e fellah
irão entender que a campanha militar contra os judeus ajuda a desencadear a
partilha e ajuda apenas os reacionários e imperialistas, enquanto ela é travada
pelas suas costas e paga com o seu sangue; para que o trabalhador judeu
reconheça finalmente suas ilusões no sionismo e entenda que ele não estará
livre e seguro enquanto não terminar a discriminação nacional, o isolamento e a
lealdade ao imperialismo.
Nós temos que manter o contato entre
os trabalhadores de ambos os povo em qualquer local de trabalho onde isso ainda
possa ser feito para prevenir ações provocativas e para proteger as vidas dos
trabalhadores no trabalho e nas ruas. Vamos forjar quadros revolucionários.
Neste inferno incandescente de chauvinismo nós temos que nos agarrar à bandeira
da irmandade internacional dos trabalhadores.
CONTRA A CORRENTE!
Estando o capitalismo mundial na sua
decadência, ele tenta resistir inflando imaginários conflitos nacionais,
passando por cima das pessoas e brutalizando-as. Em longo prazo, este paliativo
vai falhar. As massas terão aprendido suas lições através do sofrimento. Elas
vão então conhecer o seu inimigo: o capitalismo monopolista que se esconde por
trás da sua agência dominante local. Com a luta de classes ficando mais intensa
ao redor do mundo, e particularmente nos países árabes, o fim da guerra
fratricida neste país está próximo.
A onda patriótica hoje arrasta do chão
a todos que não possuem os princípios do comunismo internacional. A atividade
revolucionária nesta conjuntura exige paciência, persistência e visão de longo
prazo. É um caminho cheio de perigo e de dificuldades. Mas esse é o único
caminho para longe deste pântano patriótico. Nós devemos lembrar bem as
palavras de Lenin que, ditas numa situação semelhante, se aplicam também a nós:
“Nós não somos charlatães... Nós devemos nos
basear na consciência das massas. Se for necessário permanecer uma minoria, nós
o faremos. Nós não devemos ter medo de estar em minoria. Nós realizaremos
o trabalho da crítica para livrar as massas dos seus enganos... A nossa linha
irá provar que tem razão... Todos os oprimidos virão até nós. Eles não tem
nenhum outro caminho.”
NOTAS
[1] Ernest Bevin (1881-1951). Político
do Partido Trabalhista britânico e Secretário de Estado para Assuntos
Estrangeiros entre 1945 e 1951.
[2] Theodore Herzl (1860-1904).
Jornalista judeu húngaro e fundador do pensamento e do movimento sionista.
[3] David Weitzmann, (1898-1987).
Congressista britânico de origem judia.
[4] Sami Taha (1906-1947). Dirigente
sindical e principal líder do movimento operário na Palestina durante o período
da dominação britânica.
[5] Haganah (do hebraico “a defesa”)
era uma organização judaica paramilitar que existia na Palestina desde o período
do domínio britânico (1920-1948), e que depois se tornou o núcleo das forças
armadas israelitas.
[6] Semion Zarapkin. Embaixador
soviético na Palestina. Assinou em novembro de 1947 o acordo da ONU que previa
a política da partilha.
[7] Organizações islâmicas
paramilitares de recrutamento da juventude.