9.7.11

Coletivo Lenin rompe relações com a IBT

Declaração
Coletivo Lenin rompe relações com a Tendência Bolchevique Internacional (IBT)

Através da presente declaração, originalmente publicada em dezembro de 2010, o Coletivo Lenin rompeu publicamente relações com a Tendência Bolchevique Internacional (IBT) e estabeleceu relações fraternais com o Reagrupamento Revolucionário, um racha da IBT de 2008. Reproduzimos este documento para atestar o programa e as concepções do Coletivo Lenin na época, em contraste com a sua atual degeneração.

I – As origens de nosso contato com a IBT

O Coletivo Comunista Internacionalista (CCI – precursor do Coletivo Lenin) foi fundado em outubro de 2006, no Rio de Janeiro. Éramos um grupo trotskista de alguns poucos militantes, que tinham certeza de uma coisa: não poderíamos nos limitar a ser uma organização nacional. Para nós trotskistas, é necessário que uma organização revolucionária pertença a um partido internacional, ou lute para construir um. Assim, realizamos uma séria pesquisa com o objetivo de estudar as diferentes correntes politicas que reivindicavam o legado do trotskismo. Analisamos 27 organizações originadas da Quarta Internacional, estudando seus documentos disponíveis na internet e também nos reunindo com aquelas que possuíam seções no Brasil. Buscávamos integrar uma organização cuja linha política fosse a mais próxima da nossa. Naquela época, nossos três critérios principais eram:

1) Que a corrente considerasse a destruição da União Soviética e demais Estados operários deformados do Leste Europeu como derrotas contrarrevolucionárias. Consequentemente, seria necessário que ela defendesse a participação temporária em frentes militares com as frações da burocracia stalinista que se opusessem à restauração do capitalismo, em todo lugar em que estas demonstrassem resistência.

2)  Que a corrente reconhecesse a importância estratégica para o sucesso de uma revolução socialista de se combater todas as formas de opressões específicas (tais como machismo, racismo e homofobia). Que a corrente, portanto, priorizasse o recrutamento de trabalhadores vítimas de tais opressões, que sob o sistema capitalista costumam integrar as camadas mais exploradas da classe trabalhadora.

3)  Que a corrente rejeitasse a noção de que as forças produtivas haviam cessado de se desenvolver sob a época imperialista, uma vez que apenas através de tal rejeição é possível se estabelecer uma análise coerente do capitalismo contemporâneo.
Descobrimos que as correntes cuja origem se remetia à Liga Espartaquista dos EUA (SL) eram as que mais se aproximavam de tais critérios. Elas eram a própria Liga Espartaquista (e seus colaboradores internacionais da Liga Comunista Internacional – LCI) e dois de seus rachas – a Tendência Bolchevique Internacional (IBT) e o Grupo Internacionalista (IG). Ao analisarmos seus documentos, suas diferenças politicas pareceram pequenas, porém estes também apresentavam uma série de questões completamente novas para nós.

Vimos que a SL havia assumido uma série de posições estranhas a partir de fins dos anos 1970.  Em 1979, paralelamente à posição correta de defender a aliança tática com o Exército Vermelho contra os fundamentalistas islâmicos apoiados pela CIA, eles também levantaram a palavra de ordem acrítica de “Viva o Exército Vermelho no Afeganistão!”, quando da ocupação do país. Outras adaptações pró-stalinistas muito semelhantes se seguiram a essa, com a organização de uma coluna em um ato nomeada “Brigada Yuri Andropov”, em homenagem ao líder da URSS na época e a resposta às críticas com a publicação de um poema em sua homenagem na primeira página de seu jornal, quando da morte do burocrata. Também ocorreram adaptações ao chauvinismo nacionalista norte-americano, como a negação, em 1983, em defender uma aliança tática com forças militares libanesas que então tentavam expulsar fuzileiros norte-americanos (“Marines”) que ocupavam seu país. Quando, durante o conflito, uma bomba explodiu em um quartel dos fuzileiros, a SL levantou a palavra de ordem de “Marines fora do Líbano, já e vivos!”. As críticas a essas posições foram primeiramente levantadas pela IBT. Já uma crítica levantada por ambos os rachas dizia respeito à degeneração organizativa da SL, que havia se consolidado no início dos anos 1980. A SL havia se transformado em uma organização com uma vida interna engessada; a liderança estava nas mãos de uma camarilha burocrática que havia suprimido as críticas internas e sufocado debates através de ameaças, intimidação e repressão. Através de tais métodos, todos aqueles militantes críticos foram forçados a se retirar ou mesmo expulsos.

Esses problemas nos fizeram descartar logo cedo a possibilidade de discussão com a SL, e nos aproximaram do IG e da IBT. Nessa altura, havíamos estabelecido relações com ambos os grupos com a intenção de estudar a degeneração da Liga Espartaquista, com cujas posições originais possuímos grande proximidade e acreditávamos (como continuamos a acreditar), fornecem uma importante contribuição programática para a refundação de uma Quarta Internacional revolucionária.

Travamos discussões através de reuniões pessoais e chats online com Bill Logan e alguns outros membros da IBT, assim como participamos de reuniões pessoais coma a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil (LQB), os camaradas brasileiros do IG, seção da Liga Pela Quarta Internacional. Também participamos de algumas reuniões pessoais com o principal líder internacional do IG, Jan Norden. Após algum tempo, concluímos que as análises da IBT à cerca da degeneração da SL eram mais coerentes que aquelas do IG. Por exemplo, a IBT argumenta que a dissolução deliberada do trabalho sindical da SL no início dos anos ’80 era uma prova de que a liderança de tal organização estava mais preocupada em manter um rígido controle sobre seus membros do que em estabelecer uma sólida base na classe trabalhadora. O IG, por outro lado, argumenta que a degeneração da SL se consolidou apenas quando eles foram expulsos, em 1996. Os métodos organizativos através dos quais diversos dos futuros integrantes da IBT foram expulsos ou forçados a sair em fins dos anos 1970 e início dos 1980, são ignorados, negados ou defendidos em suas análises. Além disso, o IG também defende todas as posições da SL assumidas antes de sua expulsão (incluindo as posições quanto ao Afeganistão, a Yuri Andropov e ao Líbano).

Uma questão que o IG tentou levantar contra a IBT foi o escândalo envolvendo Bill Logan. Logan (que fora um proeminente dirigente dos espartaquistas na Nova Zelândia e Austrália durante os anos 1970) foi expulso da tendência Espartaquista internacional sob alegação de que este fosse um “psicopata sexual”, que suprimiu seus críticos internos e manipulou psicologicamente seus militantes de base. Nós estávamos cientes de que Logan, assim como diversos outros dirigentes espartaquistas, era culpado de abusos burocráticos e crimes organizacionais. Porém, também sabíamos que o IG estava explorando o escândalo que o envolvia com o objetivo de se esquivar de responder as críticas da IBT às suas posições. Infelizmente, à época acreditamos nas palavras da IBT de que esta não havia herdado nenhum dos métodos organizativos burocráticos da SL e que Logan pessoalmente havia mudado profundamente sua postura.

Como resultado da visita de Bill Logan ao Brasil, em outubro de 2007, nos decidimos por uma perspectiva de fusão com a IBT. Acreditávamos que nossas poucas diferenças e questões pendentes eram insuficientes para que continuássemos a ser dois grupos distintos por muito tempo. Esperávamos que, com o tempo, muitas dessas diferenças se resolveriam a partir de discussões e que estávamos dispostos a coexistir em um grupo comum enquanto camaradas disciplinados. O que se seguiu ao inteiro período posterior, entretanto, foi a frustração consciente de nossas tentativas de discussão com a liderança da IBT, cujas táticas de adiamento para discutir as nossas diferenças e ultimatos eram voltadas para nos desgastar e desmoralizar em completa submissão como o preço para a fusão. Começou a se tornar claro que a liderança da IBT não estava buscando fusões políticas com militantes que, mesmo compartilhando suas análises, possuíam diferenças políticas e táticas secundárias a serem internamente debatidas, mas sim buscando nos transformar em um grupo dócil e flexível, capaz se ser organizacionalmente absorvido por uma organização na qual seu controle absoluto estaria totalmente garantido de possíveis disputas.

Nossas relações com a IBT podem ser, em muitos sentidos, comparadas com aquelas travadas entre a jovem SL e o Comitê Internacional de Gerry Healy durante os anos 1960. Healy, de forma semelhante, fingiu interesse em uma fusão leal, enquanto na verdade se engajava em uma variedade de táticas inescrupulosas criadas para quebrar psicologicamente um grupo de jovens revolucionários. Assim como em nosso caso, junto a um acordo político substancial, os Espartaquistas também possuíam suas próprias apreciações de diferentes questões, e expressaram capacidade de se levantar e questionar a autoridade de Healy. Seguindo-se à ruptura de relações ocorrida em 1966, os Espartaquistas comentaram:

“A razão para o comportamento da SLL [organização de Healy] para com a delegação da SL não é difícil de se descobrir. Vocês obviamente desejam criar um movimento trotskista nos EUA que seja completamente subserviente à direção da SLL... Vocês não estavam interessados em criar um movimento unificado nas bases do centralismo democrático e com seções fortes, capazes de realizar contribuições teóricas ao movimento como um todo e de aplicar a teoria marxista de forma criativa às suas próprias arenas nacionais. Vocês queriam uma internacional à maneira do Comintern de Stalin, permeado de servilismo de um lado e autoritarismo de outro.”


II – Três anos de enrolação e estagnação

Decidimos por terminar nossas relações com o IG em janeiro de 2008. Em nossa última discussão com eles, nos chocamos ao ouvir do próprio Jan Norden que o IG/LFI não só defendeu as adaptações da SL ao stalinismo e sua incapacidade de levantar um programa revolucionário quando da queda do bloco Soviético, como também intencionava repetir seu comportamento político caso a oportunidade surgisse no futuro. Também percebemos a natureza burocratizada de sua organização internacional, a Liga Pela Quarta Internacional. O IG, localizado nos EUA, é a liderança responsável por formular toda a política da organização, enquanto a seção brasileira, bem como as demais, se resume em aplicá-la. Isto é incompatível com nossa concepção de centralismo democrático leninista. Assim, nosso contato com a LQB e o IG de Jan Norden reforçou nossa decisão em buscar uma fusão com a IBT.

No curso de nossas relações com a IBT, fomos capazes de identificar e corrigir muitas de nossas falhas políticas e organizativas. Através da leitura de seus materiais, fomos capazes de estabelecer uma compreensão mais precisa da natureza da tática de frente única (vide nosso documento Leninismo, Frentes Únicas e Blocos de Propaganda, disponível em nosso site), desenvolver análises mais coerentes dos acontecimentos políticos no Brasil, e aprender a aplicar o Programa de Transição em nossa atividade política diária. Estudando a história do movimento trotskista expandimos nossa apreciação do significado histórico da SL em seus primórdios, que buscou reerguer o programa trotskista após a destruição política da Quarta Internacional e do Partido Socialista dos Trabalhadores norte-americano (SWP), causada pelo revisionismo pablista. Começamos a entender a natureza da perspectiva de propaganda para uma pequena organização revolucionária com nosso tamanho, que, além de engajar em trabalhos de massas exemplares, deve inicialmente crescer focando disputar a vanguarda politicamente consciente, a partir de nossas concepções programáticas e através da elaboração de polêmicas com outras correntes supostamente revolucionárias. O grosso de nossa direção política e teórica desde o início de 2008 tem sido informalmente baseado nas perspectivas e materiais históricos da IBT, nos fazendo acreditar que estávamos metodológica e programaticamente muito próximos.

Ao mesmo tempo, entretanto, também possuíamos nossa própria e única compreensão teórica de certas questões que sobre as quais potencialmente diferíamos da IBT. Tentamos discuti-la com eles uma vez que (conforme achávamos) estávamos realizando progresso em direção a se tornar sua seção brasileira. Nossas diferenças eram (e são) as seguintes:

  1. Defendemos a teoria da acumulação do capital de Rosa Luxemburgo, com sua conclusão de que o capitalismo está levando a sociedade à barbárie. Essa posição, entretanto, nunca nos levou a nenhum tipo de discordância prática, mas simplesmente chamava a atenção para que discutíssemos o entendimento leninista do imperialismo.

  1. Reivindicamos as teorias do marxista brasileiro Ruy Mauro Marini. Encaramos países como Brasil, Índia, Israel, Rússia e África do Sul enquanto subimperialistas, ao invés de semicolônias dominadas. Nesses países, a fusão do capital nacional com o estrangeiro estabeleceu uma base para a exploração e o controle de outros países dentro de seus raios regionais de influência. Esse é o caso do Brasil em relação aos demais países da América do Sul, por exemplo. Assim, no caso hipotético de uma guerra entre o Brasil e a Bolívia, emblocaríamos militarmente com esta contra seu opressor regional, por entendermos que uma vitória brasileira elevaria consideravelmente o nível de exploração dos trabalhadores bolivianos. Também reconhecemos que países subimperialistas são, ao mesmo tempo, países dependentes e, assim, baseados no mesmo motivo, os defenderíamos de ataques imperialistas. Não negamos, entretanto que qualquer liberdade real em relação à opressão imperialista, seja para as semicolônias, seja para os países subimperialistas como o Brasil, só pode ser atingida através de uma revolução socialista.

  1. Assim como a maioria das organizações latinoamericanas, porém diferentemente da IBT e outros pequenos grupos de propaganda baseados em países economicamente mais desenvolvidos, aceitamos em nossas fileiras camaradas que possuem crenças religiosas. Como a entrada para a organização pressupõe acordo com suas posições políticas (incluindo a defesa da ciência, a separação entre igrejas e o Estado, a defesa dos direitos democráticos das mulheres, GLBTTs, e outras questões similares), relevamos possíveis contradições pessoais entre a teoria marxista e aspectos da crença religiosa, desde que o militante respeite a disciplina da organização. Enquanto marxistas, somos materialistas e defensores da ciência, reconhecemos o papel histórico que religiões organizadas cumprem em servir aos interesses das classes dominantes e lutamos para educar todos os nossos militantes nesse sentido.

  1. Apesar de defendermos que o Estado chinês permanece sendo um Estado operário deformado, também reconhecemos que largas porções da economia chinesa têm sido privatizadas através do aval de seus dirigentes stalinistas. Tais medidas prejudicaram consideravelmente e colocaram em cheque o caráter (burocraticamente) planejado de sua economia. Acreditamos que tais medidas impulsionadas pelos governantes burocratas criam largas aberturas e possibilitam a vitória de uma contrarrevolução capitalista. Também enxergamos fortes paralelos com o período da NEP, na União Soviética, durante os anos 1920. Lá, a combinação de uma pouco desenvolvida economia planejada, com a reintrodução temporária de formas capitalistas de produção, colocou em risco a natureza do modelo econômico dominante, porém, similarmente, não foi decisivo em determinar o caráter de classe do Estado.

  1. Acreditávamos que a IBT possuía um foco extremamente exagerado em continuar a explorar suas diferenças históricas com a SL, em detrimento daquilo que deve ser a principal tarefa de um grupo de propaganda trotskista, ou seja, buscar engajar aqueles grupos mais dinâmicos que estão dando um giro à esquerda ou possuem uma ativa vida interna, principalmente entre seus militantes de base, no que diz respeito a discussões, polêmicas, etc. Apesar de reconhecermos a importância história da Liga Espartaquista em seus primórdios, bem como a importância de educar nossos camaradas sobre seus feitos e formulações, a realidade é que a Liga Espartaquista de hoje em dia, assim como seus companheiros da Liga Comunista Internacional, tem sido já há muitos anos uma organização estagnada, que vem diminuindo em tamanho e que, além de estar se encaminhando cada vez mais para a direita, possui uma base militante extremamente despolitizada. Provavelmente baseados no mesmo motivo pelos quais busca continuar a perseguir suas diferenças históricas com a SL, a liderança da IBT planejava que mantivéssemos nosso foco em perseguir polêmicas com os seguidores de Jan Norden que, ao menos no Brasil, também visivelmente diminuíram e envelheceram ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, nos pareceu que a IBT possui pouquíssimo interesse em buscar polemizar com grupos mais dinâmicos e cujos militantes podem de fato cumprir algum papel na luta pela refundação de um movimento revolucionário. Em um primeiro momento, vimos isso enquanto uma diferença tática, provavelmente derivada do fato da liderança da IBT se encontrar presa em um momento político há muito ultrapassado, mas não tínhamos ainda compreendido plenamente as razões para tal passividade e rotineirismo.

A liderança da IBT continuou se esquivando de discutir tais questões conosco de maneira formal, através de documentos escritos e etc., pelos dois anos seguintes. Eles apenas deram um mínimo de atenção às mesmas em discussões online, misturadas com outros tópicos (e apenas devido a muita insistência de nossa parte). Ao mesmo tempo, e contraditoriamente, eles levantavam a necessidade de clarificação política como precondição para uma fusão. Acreditávamos que essas diferenças táticas e teóricas não deveriam representar uma barreira para a unificação, uma vez que elas se apagavam consideravelmente frente às nossas áreas de importante concordância.

Quanto à teoria da acumulação de Rosa Luxemburgo e ao conceito de subimperialismo de Marini, a liderança da IBT demonstrou total falta de interesse em entender nossas formulações teóricas. Tentamos resumir nossa visão sobre essas teorias complexas e indicamos a eles textos para um estudo aprofundado, mas estes não fizeram nenhum esforço para viabilizar uma discussão séria. Quanto às questões táticas envolvendo o foco desmedido na SL e no IG e quanto à nossa visão sobre a China, a IBT reconheceu que, em princípio, elas não deveriam impedir uma fusão, ao mesmo tempo em que tomaram a “resolução” dessas questões enquanto uma precondição para que avançássemos em nossas relações. Quanto à questão de nossos membros religiosos, a IBT aparentou uma considerável falta de clareza, uma vez em que eles nunca defenderam a exclusão de membros religiosos enquanto um princípio, porém utilizaram tal questão enquanto uma barreira para que progredíssemos. Eles demonstraram total desinteresse em estudar a experiência de uma cultura política diferente na América Latina, onde membros de organizações autoaclamadas revolucionários têm sido historicamente permitidos a possuir crenças religiosas.

É importante reiterar que, durante todo esse período, estávamos dispostos a aceitar integrar as fileiras da IBT enquanto uma minoria disciplinada no que diz respeito a essas questões, uma vez que aparentávamos ter atingido um acordo substancial naquelas questões essenciais. Ao demandar a resolução prévia dessas questões, ao mesmo tempo em que barrava a concretização de tal resolução através da enrolação durante anos no que diz respeito a engajar em discussões por escrito, a IBT tornou o progresso em nossas relações completamente impossível na prática. Ao mesmo tempo, fomos mantidos no limbo a partir de constantes afirmações de que eles mantinham viva a perspectiva de fusão conosco.

Por cerca de três anos utilizamos uma adaptação do documento da IBT “Pelo Trotskismo!” enquanto nosso programa político formal. Nós considerávamos e declarávamos publicamente (até dois meses atrás) que a IBT representava a continuação programática do trotskismo, afirmação que podia ser constatada em nosso site e em materiais e intervenções apresentadas ao movimento operário e estudantil. Fomos nós que traduzimos todos os documentos presentes na seção em português do site deles. E apesar disso tudo, a IBT recusou declarar publicamente que mantinha relações conosco ou mesmo que existíamos (ao não nos creditar pelas traduções). Nessa época, consideramos tal postura extremamente estranha, uma vez que a declaração pública de relações fraternais é o primeiro passo dentro de uma perspectiva de fusão com outra organização.

Em dezembro de 2008 escrevemos uma carta à IBT exigindo uma séria discussão de nossas diferenças e requisitando que eles assumissem medidas práticas para facilitar a possibilidade de uma fusão no futuro. Naquele ponto começamos a desconfiar que a IBT, apesar de suas afirmações, não possuía interesse real em fundir com nossa organização. Que eles fundiriam apenas com grupos que abrissem mão de todas as suas diferenças e opiniões independentes. Tal tipo de “fusão” exigiria que antes fôssemos psicologicamente destruídos, cessando assim a possibilidade de sermos genuínos revolucionários.

No início de 2009 o CCI deu lugar ao Coletivo Lenin (CL), após fusão com um grupo de camaradas que haviam rompido com a organização pseudotrotskista PSTU. Isso representou um salto qualitativo para a capacidade de nossa organização. Com alguma orientação da IBT, estabelecemos prioridades organizativas mais perspicazes, melhoramos nossa organização financeira e tornamos nosso órgão de imprensa regular (na época, o jornal Hora de Lutar). Também elegemos uma Direção Nacional, uma vez que estávamos presentes em duas cidades (Rio de Janeiro e Juiz de Fora). Por último, também vimos necessidade de que a nova organização atuasse conjuntamente em um mesmo espaço para propiciar um crescimento e amadurecimento coletivo. A maneira que encontramos de fazer isso foi centrando nossas atividades no movimento sem-teto do Rio de Janeiro, através da atuação na Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST). Era uma oportunidade de atuar lado a lado com militantes radicalizados da camada mais oprimida e explorada da sociedade brasileira.

A IBT respondeu a essa escolha tática de uma maneira ríspida e sectária. Eles aparentaram acreditar que um grupo de propaganda deveria focar seus esforços inteiramente em polemizar com outros grupos de esquerda, particularmente, no nosso caso, com a LQB, a ponto mesmo de excluir a possibilidade de atuação em outras arenas. Fomos falsamente acusados de sermos movimentistas e buscar recrutar pessoas com baixa formação política.

Em consequência, alguns dos nossos camaradas passaram a considerar que as diferenças com a IBT talvez fossem mais profundas do que aparentavam ser. A IBT pareceu ser extremamente passiva e conservadora, não apenas em relação a progredir nas nossas relações, mas também com relação a realizar qualquer tipo de trabalho de massas mais amplo. Por causa disso, escrevemos uma carta para a IBT em outubro de 2009, discutindo a recente reorganização de nosso trabalho e exigindo que eles fossem mais claros quanto às perspectivas de fusão entre nossas organizações e como proceder nessa direção. Outra carta de fevereiro de 2010 explicava de forma detalhada nosso trabalho na FIST e respondia às críticas e distorções sobre ele.

Essa carta pela primeira vez gerou uma resposta formal por parte da IBT, porém apenas porque nos recusamos a dar continuidade aos chats online até que obtivéssemos como resposta um documento escrito. Apesar da resposta deles ter apenas fortalecido nossas suspeitas de que eram dotados de atitudes passivas e organizativamente conservadoras frente à tarefa de construção de um partido, concordamos que enviassem um representante para nos visitar e participar de nosso I Congresso, em agosto de 2010. Apesar de tudo, ainda acreditávamos na possibilidade de uma fusão.

III – A postura da IBT em nosso Congresso: do conservadorismo às manobras burocráticas

Como parte do processo de consolidação de nossa organização, preparamos nosso primeiro congresso, com o objetivo de mapear as perspectivas do Coletivo Lenin para os dois anos seguintes. Como é comum para uma organização saudável e democrática, durante o período de pré-congresso três tendências internas se formaram no CL. No que tange nossas relações com a IBT, a maioria foi a favor de continuarmos a trabalhar para uma fusão, enquanto uma minoria, concluindo que a IBT era uma organização sectária e passiva/conservadora, se opôs a tal perspectiva. Seguindo o costume que havíamos estabelecido, compartilhamos com a IBT todos os nossos documentos internos e abrimos a eles nossa vida interna (algo que a IBT nunca respondeu de forma recíproca ao longo de toda a nossa relação). Como resultado, a IBT se tornou muito próxima de uma das três tendências internas.

Durante o Congresso (do qual o representante da IBT participou), duas das tendências internas e a maioria do CL apoiaram a perspectiva de fusão com a IBT. O Coletivo Lenin decidiu, então, continuar a buscar uma fusão e requisitou que à IBT que finalmente começasse a responder nossas diferenças (cuja solução eles sempre insistiram ser uma precondição para progredirmos em nossas relações) a partir do mês seguinte, uma vez que estávamos todos frustrados e ansiosos para progredirmos após três anos de estagnação em nossas relações. A nova Direção Nacional eleita era uma expressão dessa decisão: era composta por aqueles camaradas favoráveis à perspectiva de fusão com a IBT. Ao mesmo tempo, o CL decidiu por assumir uma atitude mais firme quanto a acabar com os três anos de inação por parte da IBT em desenvolver suas relações conosco. Pedimos por uma prova concreta da sinceridade deles em querer prosseguir em nossas relações: uma declaração reconhecendo publicamente a existência destas – o que a IBT acabou por não fazer.

A resposta imediata da IBT após nosso congresso chocou a todos. Após reportar à sua direção, o representante da IBT nos informou que a avaliação era de que o CL estava organizativamente instável e politicamente se afastando da IBT (e isso logo após termos aprovado uma moção pró-fusão!). Era verdade que uma minoria, que consistia em um camarada, estava se afastando da IBT, mas o comprometimento da maioria era firme. E quanto ao CL ser instável, nossa organização possuía (e ainda possui) uma vida interna na qual as diferenças emergem e são devidamente debatidas, como acreditamos que deve ser em uma organização bolchevique. Isso não significa que sejamos uma organização instável ou indisciplinada. Nós hoje sabemos que para a IBT (cuja última tendência interna data de meados de 1997), qualquer diferença interna séria em relação à Direção é tida como sinal de uma perigosa “instabilidade”. Assim, fundir conosco representaria um perigo para uma liderança burocrática cujo principal objetivo é possuir o controle absoluto da organização, ao invés de construir um grupo capaz de crescer, se desenvolver e atuar enquanto um instrumento para impulsionar a revolução da classe trabalhadora.

O pior, entretanto, ainda estaria por vir. Alguns dias após o congresso, enquanto ainda alegava desejar uma fusão, a IBT secretamente “convidou” alguns de nossos camaradas da tendência mais próxima a eles a romperem com o CL e se tornarem os representantes da IBT no Brasil. É importante analisarmos tal “convite” mais de perto. Primeiro isso nos indicou que todas aquelas diferenças que a IBT fingia encarar enquanto tão sérias (os tópicos anteriormente enumerados), eram na verdade insignificantes para eles, uma vez que os camaradas que foram “convidados” a rachar possuíam as mesmas posições que o resto da organização quanto a tais questões. Segundo, isto nos indicou o caráter inescrupuloso da liderança da IBT: ao mesmo tempo em que alegavam possuir relações fraternais e amistosas conosco, eles estavam secretamente tentando nos rachar, nos tratando na verdade enquanto um inimigo hostil. Em Terceiro lugar, isto demonstrou uma grande falta de confiança na sua própria organização e políticas, o que sem dúvida é reflexo de uma desmoralização ainda mais profunda, uma vez que, mesmo a maioria do CL não apenas desejando, como também ativamente cobrando uma fusão, eles optaram por tentar rachar nossa organização ao invés de avançar em suas relações conosco. Felizmente, os camaradas “convidados” negaram a oferta e a reportaram ao resto do Coletivo Lenin.

IV – O Reagrupamento Revolucionário

O impacto do burocratismo e da covarde deslealdade por parte da liderança da IBT só aumentou com o passar do tempo, uma vez que nossos camaradas buscaram compreender melhor os eventos à luz de toda a relação prévia com eles. A ação por parte deles deixou claro para nós que a IBT não buscava uma fusão com nossa organização, independentemente de eles afirmarem isso. Na verdade eles estavam apenas nos manobrando na perspectiva de recrutar nossos militantes mais jovens e inexperientes. Eles provavelmente assumiram que assim seria mais fácil absorver e assimilar tais camaradas dentro de sua cultura interna burocratizada e convencê-los de abandonar suas diferenças. Nós ainda estávamos confusos, entretanto, tentando compreender porque a IBT agiria de maneira tão diferente daquela política que dizia defender e, mais ainda, tendo em vista suas polêmicas anteriores com as organizações burocratizadas que reivindicavam o legado espartaquista.

Poucas semanas antes de nosso congresso, tivemos um primeiro contato com Sam Trachtenberg, do Reagrupamento Revolucionário, que havia rachado da IBT no outono de 2008. A IBT nunca nos informou da sua saída e decisão de montar uma organização concorrente. Trachtenberg nos deu uma explicação marxista do comportamento da IBT através de sua carta de ruptura, intitulada “A Estrada para Fora de Rileyville” (disponível em nosso site). Ele também desenvolveu um pouco dessa explicação no curso de breves correspondências que tivemos antes de nosso congresso. Nesse momento nós infelizmente não demos à análise o crédito suficiente que ela merecia, já que estávamos tão ansiosos em levar adiante uma fusão com um grupo cujas posições, no papel, pareciam tão próximas das nossas e com o qual havíamos investido três anos de trabalho. Um dos assuntos discutidos no congresso foi uma proposta de estabelecer relações com o Reagrupamento Revolucionário. A proposta foi rejeitada, mas sem dúvida também impactou a tentativa desesperada da liderança da IBT de inviabilizar nossa organização. Mas a análise (e algumas previsões futuras) que recebemos do Reagrupamento Revolucionário coube como uma luva em nossa experiência posterior com a IBT.

Como explicou o RR, a IBT se transformou ao longo dos anos em uma organização burocratizada controlada e manipulada por uma camarilha de “líderes permanentes”. Esses líderes colocam a habilidade de controlar a organização acima de suas afirmações formais de querer ver o grupo crescer e se tornar um instrumento para a revolução socialista. Atualmente a IBT é estritamente dominada por uma camarilha burocrática que consiste daqueles que também tinham antecedentes corruptos como líderes da SL antes de serem perseguidos pelos seus próprios burocratas. Com o passar do tempo, outros membros antigos (sem tais antecedentes corruptos), ou acabaram por deixaram o grupo ou foram forçados a sair, enquanto a liderança remanescente nunca foi substituída pelos camaradas mais jovens, tornando-se menor em composição e agindo como uma panelinha de autoproteção em sua relação com os membros de base.

Enquanto isso, após quase 30 anos de existência, muitos dos membros também envelheceram e se tornaram cansados e passivos diante da ausência de mudanças organizativas. Isso permitiu à liderança se sentir mais à vontade em sua habilidade de usar métodos corruptos inescrupulosos que haviam aprendido em suas carreiras como líderes da SL. Esses métodos, juntamente a outros novos que foram desenvolvidos, foram usados com os membros da IBT, grupos simpáticos e militantes simpatizantes com o propósito de manter o seu controle absoluto. Abandonando quaisquer esperanças de crescimento e inovações na luta de classes, a IBT (como seus pais na SL) optou, ao invés disso, por preservar a ordem interna e permitir a si mesma “morrer com dignidade”.

O principal objetivo da IBT é proteger e preservar os legados pessoais de sua liderança envelhecida (agora com seus sessenta anos) ao invés de buscar usar o grupo como um veículo para construir um partido revolucionário. Sob tais circunstâncias, qualquer expressão séria de diferenças dentro da organização é vista como uma ameaça à sua estabilidade e seu objetivo não-oficial, ao invés de uma oportunidade de corrigir erros e desenvolver teoricamente os seus membros. Uma fusão com o Coletivo Lenin, portanto, que tem cerca de um terço do tamanho atual da IBT e que seria eventualmente incluído na liderança após uma fusão, colocava-se como uma ameaça para o status imutável dos líderes da IBT. Nossa habilidade em apresentar diferenças também poderia ter tornado os membros mais politizados e criado um exemplo para outros dentro da IBT começarem a expor seus pensamentos. É por isso que a IBT decidiu por tentar fazer naufragar nosso grupo ao invés de fundir com ele.

Em sua carta de rompimento, Sam Trachtenberg argumentou: “Por mais formalmente correto que seu programa no papel possa estar no momento, a História mostrou que o tipo de organização no qual a IBT se tornou, um grupo estático, estagnado, dominado por uma liderança permanente entrincheirada e maquiavélica, nunca poderá fazer crescer os camaradas mais jovens, se desenvolver e assim prestar um pequeno papel no processo [de reconstrução da Quarta Internacional]”. A defesa (ou melhor, a preservação) da história e do programa da IBT se tornou uma questão em separado de uma expressão orgânica da aspiração revolucionária do grupo e foi usado como um mecanismo para transformá-lo em uma seita autoritária. Os líderes da seita se tornam “guardiões” do “programa” (ou melhor, dos seus próprios legados históricos). Assim como à IBT, isso já ocorreu com a Liga Espartaquista e outros grupos no passado. No previamente citado documento de 1966 do rompimento da SL com o Comitê Internacional de Gerry Healy, os Espartaquistas explicaram:

“Sob condições de pronunciado isolamento do movimento mundial da classe trabalhadora, os revisionistas abandonaram uma perspectiva operária revolucionária por uma orientação em direção a formações pequeno-burguesas como os burocratas stalinistas, burocratas socialdemocratas e lideranças nacionalistas nos países coloniais... Os líderes britânicos parecem ter respondido à ‘crise teórica, política e organizativa’ do trotskismo se escondendo na ‘ortodoxia’. Sua reação ao revisionismo parece ter sido aquela de um sumo sacerdote ao qual foi confiada a proteção das sagradas escrituras; assim ocorre o surgimento de uma liderança autoritária com punho de aço.”

V – Uma última tentativa

Em setembro, a recém-eleita Direção do CL, formada justamente por aqueles camaradas de nosso grupo que mais ardentemente desejavam uma fusão com a IBT, reagiu aos eventos mencionados convencendo outros camaradas da necessidade de se reestabelecer contato e abrir discussões com o RR. Nós não havíamos, entretanto, decidido fechar a porta para a IBT ainda. Nós desejávamos estar inteiramente seguros das decisões que iríamos tomar. Assim, continuamos a discutir com a IBT e comunicamos a eles nossas reações frente ao que fizeram por trás dos panos, esperando dessa forma exercer pressão para que reconhecessem seus erros e alterassem seus métodos em relação a nós. A resposta da IBT foi racionalizar seu comportamento prévio, negar de forma nada ingênua qualquer possível erro, e tentar nos convencer que estávamos agindo de maneira paranoica. Isso foi recebido por nossos militantes enquanto um insulto a nossa inteligência.

Em uma medida desesperada de tentar desviar nosso curso do RR, a IBT nos enviou uma seleção limitada de documentos internos envolvendo a ruptura de Trachtenberg. É importante frisar que a liderança da IBT parece segura o suficiente de seus métodos para acreditar que tais documentos os fariam parecer ter agido de maneira correta com o Trachtenberg. Mesmo que os documentos que nos foram enviados não abarquem toda a discussão que ocorreu internamente, eles foram o suficiente para percebermos o padrão geral do burocratismo criminoso que sofremos em nossa própria relação com eles. Nesses documentos, a liderança da IBT simultaneamente negava e explicitamente defendia o uso de procedimentos burocráticos contra críticas passadas e os militantes que as levantaram. Eles defenderam o fato de terem (secretamente) escondido informações internas de tais militantes (incluindo aqueles que formalmente ocupavam posições de liderança antes de saírem), bem como tentativas de impedir debates internos colocando o resto da organização sob disciplina informal para que não discutissem suas diferenças. Isso, é claro, tornou a liderança de tais camaradas em uma ficção. A liderança da IBT alegou que correto utilizar certos tipos de métodos desonestos para com militantes que eles avaliavam estar em um processo de “rápida mudança política”, além de grupos simpatizantes (para não mencionar outros na esquerda) que eles enxergariam enquanto oponentes ou organizações inimigas.

Os documentos internos mostraram a liderança defendendo seu “direito” de utilizar “sanções formais e informais” contra militantes que encarassem apresentar “posições oportunistas”. Excluindo-se o fato de que “políticas oportunistas” na verdade quer dizer o simples desacordo com a liderança ao invés de qualquer conduta organizativamente errada, o uso de “sanções informais” não passa da defesa implícita do “direito” da liderança burocrática de implementar tais “sanções” de maneira informal, sem nunca as ter discutido formalmente ou mesmo informá-las aos camaradas “sancionados”, como parte do esforço deles de ou quebrar os militantes ou forçá-los a se retirarem, sem deixar nenhum rastro oficial de conduta burocrática.

Os documentos também mostraram métodos similares sendo utilizados para pressionar Trachtenberg a se retirar, um dos últimos militantes remanescentes da IBT com algum passado de contestação da liderança em diversas questões (como a intenção inicial se levar a IBT a votar pela permanência de Hugo Chávez na presidência quando do plebiscito de 2004 na Venezuela). Até mesmo essa coletânea parcial e incompleta que nos enviaram demonstrou um padrão de tentativas de desmoralizá-lo e, assim como ocorreu com outros, tornar sua posição enquanto militante uma ficção, privando-o das discussões internas e etc. A liderança chegou mesmo a explorar seu histórico de depressão ao frequentemente aludir à possibilidade de suas críticas aos métodos burocráticos por ela utilizados serem frutos de “distúrbios mentais”.

A liderança da IBT declara para seus militantes que grupos, assim como o nosso, que decidem por encerrar suas relações com eles devido à existência de tais métodos burocráticos na verdade o fazem por discordâncias oportunistas não reveladas. A IBT chegou mesmo a tentar reescrever publicamente a história ao fazer alegações similares quanto a um grupo argentino que traduziu a maior parte dos documentos presentes na seção em espanhol do site deles:

“Um recuo menos público, porém mais significativo, foi nossa falha em conseguir fundir com um grupo de camaradas argentinos que aparentaram estar programaticamente muito próximos de nós. Isso se deveu parcialmente à dificuldades linguísticas, mas um fator mais importante era a distância em termos de cultura política expressa por eles à cerca das tarefas e prioridades de um micro-grupo de propaganda.”


Entretanto, os documentos que eles nos enviaram indicam que o grupo argentino rompeu relações devido às desonestidades “por trás das cortinas” do tipo que nós mesmos experimentamos, e conforme tais documentos demonstram, diversos outros grupos também. Não há razões para não supormos que esse mesmo tipo de “explicação” será dada pela liderança aos militantes da IBT sobre nosso afastamento. Apesar de termos sido informados por recentes ex-membros da IBT que seus militantes de base praticamente não receberam informações sobre nós por parte da liderança ao longo desses últimos três anos, é parte da responsabilidade deles encarar essa dura realidade e reconhecerem que nossa experiência com a IBT segue um padrão que continuará a se repetir.

VI – Conclusão

Não abandonamos nosso programa revolucionário! Continuamos a defender o legado politico da Liga Espartaquista e da Tendência Bolchevique Internacional até o momento de suas respectivas degenerações burocráticas. Não nos deixaremos desmoralizar por esta experiência! Não desenvolveremos falsas conclusões sobre a suposta impossibilidade de reconstruir uma Quarta Internacional revolucionária e menos ainda alteraremos nossa linha política, como a liderança burocrática da IBT certamente espera como forma de justificar nossa ruptura com tal organização. Apenas concluímos que a IBT já não pode mais contribuir com a reconstrução de um movimento revolucionário.

Continuaremos a analisar criticamente a história da IBT para melhor compreender as razões de sua degeneração, bem com a de seus predecessores. Continuaremos a procurar por grupos e camaradas interessados em resgatar as importantes contribuições de organizações que uma vez representaram a continuidade do trotskismo, ao invés de buscar defender os legados de líderes que muitas vezes cooperaram eles mesmos para a degeneração de suas organizações. Nosso objetivo é construir um partido capaz de liderar uma revolução – o que implica não ter medo de assumir riscos organizativos quando necessário, ao mesmo tempo em que mantemos uma vida interna saudável, na qual críticas sejam tratadas de maneira honestamente leal, e sejam capazes de desafiar ortodoxias de longa data sem que por isso sofram perseguições. Um partido que seja capaz de nadar contra a corrente e defender conquistas ideológicas por hora impopulares, bem como reavaliar posições antigas caso estas tenham se mostrado erradas.

Assim, declaramos nossas relações fraternais com o Reagrupamento Revolucionário. Convidamos aqueles militantes e ex-militantes da IBT que permanecem incorruptos pela sua experiência, bem como outros que concordem com nossos objetivos políticos, a debater com o Reagrupamento Revolucionário e com o Coletivo Lenin sobre como proceder e conquistar avanços na reconstrução da Quarta Internacional.

Saudações Comunistas!

Coletivo Lenin,
Dezembro de 2010.