4.7.11

Carta de Ruptura de Sam Trachtenberg com a TBI

Carta de Rompimento com a Tendência Bolchevique Internacional
A Estrada para Fora de Rileyville

A carta de rompimento a seguir, feita por Samuel Trachtenberg, foi enviada em 25 de setembro de 2008.

Camaradas,

Essa carta de rompimento não deve vir como uma surpresa para vocês. Enquanto tive problemas e fiz críticas direcionadas à liderança da TBI nos anos anteriores, por mais de um ano agora eu tenho constantemente batido de frente com ela sobre o desenvolvimento presente e futuro da TBI e o seu interminável rastro de panelinha, intriga, manobra e métodos desleais em geral através dos quais a Troika (Tom Riley, Bill Logan e Adaire Hannah) têm mantido seu controle sobre o grupo por todos esses anos.

Eu sigo convencido da necessidade e da possibilidade de derrubar a sociedade capitalista, mas essa possibilidade só pode se atingida através do reagrupamento dos subjetivamente revolucionários pelo mundo numa base programaticamente sadia pela reconstrução da Quarta Internacional. Por mais correto que esteja o programa formal escrito por enquanto, a história mostrou que o tipo de organização na qual a TBI se transformou, um grupo estático, estagnado, dominado por uma liderança permanente maquiavélica profundamente enraizada, jamais pode fazer com que os camaradas mais jovens cresçam, se desenvolvam, e dessa forma prestem um papel nesse processo. Nós perdemos os camaradas argentinos primeiramente por estas razões, e é apenas uma questão de tempo até que os atuais simpatizantes latinoamericanos do grupo descubram isso eles próprios. Daniel DeLeon, um dos pioneiros do marxismo norte-americano, também era bastante “ortodoxo” no seu tempo, mas ele liderava uma seita rígida hipercentralizada e autoritária cuja contribuição foi principalmente literária. Nãoé acaso que muitos poucos na história do SLP (Partido Trabalhista Socialista), o grupo de DeLeon participaram na fundação do PC/EUA.

Sob esta luz, talvez a situação da seção neozelandesa seja a mais instrutiva. De um ponto em que era o maior grupo que reivindicava o trotskismo no país, ela regrediu para quatro geriatras semiativos. Eu suspeito que a razão para isso seja que a sua reputação é tal que a maioria dos ativistas da Nova Zelândia não iria querer chegar nem a 10 metros de distância dela. A reputação de Logan e Hannah como líderes da Liga Espartaquista, combinada com o seu aparente fracasso em romper completamente com suas práticas passadas (como expressas em suas sessões de desmoralização interna e a perseguição a Peter De Waal), são amplamente conhecidos nos círculos de esquerda da Nova Zelândia e debatidos em vários grupos de discussão na internet. Mas enquanto havia inicialmente algum protesto entre os membros quando esses incidentes ocorreram, os líderes foram capazes de seguir em frente e a manutenção da capacidade da direção em repetir o tratamento atroz com outros críticos, concorde-se ou não com as suas críticas, estabeleceu um padrão ruim no qual o grupo ainda vive atualmente. Eu fortemente sugiro aos camaradas que leiam os documentos sobre a perseguição da célula da Bay Area (disponível em inglês). Não é preciso ser um fã de Gerald Smith ou Fred Ferguson para ficar perturbado com a maneira típica de um Zinoviev com a qual a liderança lidou com eles. Trotsky lidava com tais diferenças de forma radicalmente diferente como qualquer um pode perceber lendo A Crise da Seção Francesa, onde questões semelhantes de uma imprensa “popular” mantida dentro da disciplina estavam em controvérsia.

Mas enquanto alguns destes casos ocorreram mesmo antes de eu me tornar um membro, eu ainda posso dizer que a TBI é hoje um grupo radicalmente diferente daquele que eu entrei em 1994. Até 1998, quando ocorreu a sua última luta fracional, a TBI era ainda um grupo cheio de debates e disputas de linha política. Na conferência da América do Norte, à qual eu participei após me unir ao grupo, Riley e Logan ainda eram minoria em muitas questões. Mas são agora 10 anos desde a última luta fracional na TBI com os seguidores de Jim Creegan e com Ian Donovan.

Era assim que o grupo via a questão no passado, quando ela aconteceu com a SL (Liga Espartaquista), o grupo com o qual rompeu:

“No mundo de sombras que cada vez mais constitui a vida interna da SL/EUA, a liderança ocasionalmente sente necessário responder a dúvidas, perguntas e críticas que nunca foram explicitamente articuladas por ninguém, mas que parecem espreitar as mentes de muitos. Logo após a questão envolvendo Gordon, Seymour lançou um artigo chamado ‘O Camarada Robertson e a Tendência Espartaquista’ no qual ele trata da espinhosa questão do porquê de a última luta fracional na SL ter ocorrido em 1968. Seymour coloca que ‘Em uma organização homogênea, luta fracional ocorre quase sempre quando modificações nas circunstâncias objetivas exigem uma mudança fundamental na linha política e nas perspectivas organizativas.’ (Boletim de Discussão Interna número 30, página 44). Ele usa o exemplo do Partido Bolchevique, que não era ‘claramente nem um culto nem uma organização personalista. A cada virada maior, Lenin encontrava resistência ou oposição aberta entre os membros de liderança’. O fato de que esse não é o caso na SL/EUA há mais de dez (hoje catorze) anos, explica Seymour:”

“‘é condicionado pelo fato da ausência de circunstâncias objetivas que exigem mudanças maiores ou inovações na linha política ou viradas organizativas não antecipadas... ’ ”

“‘Nossa tendência existe num quadro organizativo a tem limitado a propagandear o programa e visão de mundo trotskista... [a SL/EUA] nunca desafiou seriamente, nem mesmo de maneira episódica, a liderança burocrática da classe trabalhadora... ’ ”

“Muito bem então... todas as lutas fracionais na Tendência Espartaquista Internacional esperam o dia em que a organização ganhe uma base de massa na classe trabalhadora.”

            Declaração da Tendência Externa (1982)

No entanto, quando eu levantei essa questão (junto com várias outras similares), os camaradas deram a mesma resposta que Seymour, combinada com uma grosseira campanha para me convencer de que minhas críticas provinham de “problemas mentais”. Enquanto eu possuo um histórico de depressão, não tenho quadro de insanidade e sou perfeitamente capaz de reconhecer a realidade e as tentativas da liderança de usar os mesmos mecanismos comigo que foram usados com outros críticos. Ian Donovan, que levantou críticas politicamente não-apoiáveis sobre a questão da Frente Popular, foi tratado numa trama semelhante. Após deixar o nosso grupo quando a liderança anunciou de forma antidemocrática que as diferenças dele não seriam discutidas num período de 2 a 4 anos até a próxima conferência, a TBI respondeu com falsas insinuações externas (e afirmações explicitas internas) que a avaliação de Ian do que havia acontecido era um produto de “doença mental”. No entanto, a avaliação dele era precisa. Enquanto Ian tinha um histórico de acessos de raiva em tratamento, ele também não era insano.

Um dos corruptos capatazes da liderança, Jason Wright, tem ele próprio uma história de sua organização anterior, a Revolutionary Workers League, que fez uma campanha para convencê-lo de que suas críticas corretas a ela eram um produto de “doença mental”. Como ele pode se olhar no espelho hoje, sendo um cúmplice de uma campanha semelhante, eu não sei. O termo para esse tipo de prática é “gaslighting” e eu pediria aos camaradas que fizessem uma busca no Google sobre isso. O fato de que Bill Logan, um “profissional” de saúde mental, usou suas credenciais para tais propósitos nojentos aumenta a corrupção envolvida.

O incidente que finalmente me forçou a enfrentar a questão de frente aconteceu há duas semanas. Eu recebi um email de Tom Riley me dizendo que ele queria conversar comigo. Uma vez que eu estava bastante irritado com a mais recente provocação do CEI [Comitê Executivo Internacional] em tentar me fazer perder a calma, eu disse a ele para me mandar um e-mail e que eu iria responder, já que eu estava estressado demais no momento e que não queria lidar com mais problemas desnecessariamente. A resposta de Tom foi me informar que eu não faço as regras, e ele sim, e que eu estava sob disciplina para telefoná-lo. Eu respondi que isso deveria envolver alguma questão de segurança ou algo semelhante que não poderia ser discutido via e-mail, já que de outro modo a exigência não teria a ver com nenhuma disciplina operacional legítima, mas seria um exercício para estabelecer obediência psicológica do tipo que a SL costumava fazer, e que desse modo, seria inteligente para ele me enviar um e-mail, já que nunca é uma boa idéia, para aqueles que perderam toda a autoridade moral, começar a usar ameaças. Ele respondeu continuando a exigir que eu telefonasse. Quando eu telefonei, ele me informou que quando ele, o senhor grande líder mandachuva, me dissesse para telefonar, era melhor que eu telefonasse, e procedeu arrogantemente me informando que eu “não deveria me surpreender se num futuro não muito distante” eu me visse “forçado a sair do grupo” seguido por uma de suas asquerosas risadas. Fosse a intenção me provocar para sair, iniciar intimidações burocráticas, ou mais provavelmente uma declaração de intenção futura feita num momento de descontrolada arrogância burocrática, ela me forçou a confrontar pessoalmente o fato de que, se tal nojento abusivo podia ser o líder inquestionado e indiscutível de um grupo, isso significava que esse grupo não tinha futuro revolucionário. No fim, a questão que ele tinha que discutir poderia ter sido discutida por e-mail. A resposta dele foi de que ele “não achou isso”.

Eu valorizo profundamente as contribuições históricas passadas da TBI e buscarei continuar o seu trabalho. Mas uma continuação não é uma repetição e o grupo que eu (e outros) formaremos terá o cuidado de não repetir o seus erros. Os camaradas podem ler mais no site www.regroupment.org, que em breve estará online.

Eu chamo outros membros da TBI para se juntarem a mim uma vez que eu não creio que a liderança da TBI seja reformável a essa altura, nem acredito que a necessária insurreição dos membros de base que o grupo precisa seja possível numa conjuntura histórica como a nossa. Isso ocorreria geralmente como um reflexo de crescente luta de classes na sociedade em geral, assim como a pacificação dos quadros da TBI reflete o período difícil no qual a TBI vem sofrendo nos seus 27 anos de incapacidade de romper uma existência hipermarginalizada. Mas para aqueles que discordam eu os convido a fazerem uma tentativa de reforma. Se vocês forem bem sucedidos antes que a rotina destrua o programa formalmente correto, eu e os que se juntarem a mim estaremos prontos para unir a vocês nossas forças. Mais provavelmente, a liderança irá marginalizá-los com suas incessantes manobras por trás dos panos e campanhas de boatos, combinadas com repressão organizativa, até que vocês desistam e abandonem a organização, desmoralizados e falidos, como Jim Robertson (que ensinou os líderes da TBI em suas técnicas) costumava explicitamente dizer que era o jeito de lidar com oposicionistas.

Aqueles que tentarem e, como eu, continuarem determinados a serem revolucionários, estão convidados a entrar em contato com o novo grupo que eu vou participar da formação. Eu estou confiante do seu futuro.

Samuel Trachtenberg

PS: Enquanto o novo grupo terá um foco em polêmicas, ele não terá um foco tão estreito na TBI. Eu não formarei uma “tendência externa”. Enquanto tal orientação fazia sentido para um partido de massas envolvido em combate diário, como a Internacional Comunista, ela não faz sentido para um grupo puramente literário com menos que 40 pessoas pelo mundo. Essa orientação já não fazia sentido para um grupo como a SL, e a TBI nunca conseguiu sair desse foco limitado. Essa foi uma lição que eu aprendi. Mas eu escreverei polêmicas com a TBI quando a necessidade surgir e certamente irei responder a quaisquer acusações. Uma análise histórica mais ampla do que a apresentada nessa carta virá em breve.

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